Filme do Dia: O Ódio é Cego (1950), Joseph L. Mankiewicz


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O Ódio é Cego (No Way Out, EUA, 1950). Direção: Joseph L. Mankiewicz. Rot. Original: Joseph L. Mankiewicz & Lesser Samuels. Fotografia: Milton R. Krasner. Música: Alfred Newman. Montagem: Barbara McLean. Dir. de arte: George W. Davis & Lyle R. Wheeler. Cenografia: Thomas  Little & Stuart A. Reiss. Figurinos: Travilla. Com: Sidney Poitier, Richard Widmark, Linda Darnell, Stephen McNally, Mildred Joanne Smith, Harry Bellaver, Stanley Ridges, Dots Johnson, Ossie Davis, Ruby Dee, Dick Paxton, Amanda Randolph.
O dr. Luther Brooks (Poitier), desperta o ódio racial de um criminoso, Ray Biddle (Widmark), que o acusa de matar o irmão Johnny (Paxton). Inseguro e acuado, Luther conta com o apoio de seu superior, Dan Wharton (McNally), que defende-o inclusive junto ao administrador do hospital, Sam Moreland (Ridges) e entra em contato com a ex-mulher de George, Edie (Darnell), para que tente convencer Ray sobre a necessidade de uma autópsia. Com os tumultos raciais provocados pelo episódio, Brooks se entrega à polícia como assassino confesso de Johnny Biddle. Sua intenção com o ato, no entanto, é que seja feita uma autópsia no corpo de Johnny. Essa é feita e o inocenta. Inconformado, Ray consegue fugir com a ajuda do irmão surdo-mudo George (Bellaver). Ele domina Edie e pede que ela ligue convencendo Brooks a se dirijir a casa do Dr. Wharton. Lá ele torna Brooks seu refém, porém esse com a ajuda de Edie, que consegue fugir da guarda de George, reverte a situação.
Desde os primeiros minutos de seu primeiro  filme – só havia sido extra numa produção anterior – a persona cinematográfica de Poitier já se encontra estabelecida. A do negro “acima da média”  em termos econômicos (e bem mais ainda em termos éticos, caso se leve em conta que ele se encontra disposto a salvar a vida do homem que o tentou matar, ainda se encontrando ferido), produto da consciência liberal branca que o transforma numa personagem idealizada, capaz de dialogar tanto com o setor liberal branco quanto com a emergente classe média negra americanas. Não seria justo afirmar, como o fez um crítico à época de seu lançamento, que todo o ódio racial se encontra identificado com a figura de um psicótico branco, livrando assim da culpa e da identificação todo uma grande parcela do público consumidor dessa obra – que aliás fracassou nas bilheterias; melhor dizer que o ódio se encontra disseminado entre brancos e negros de uma classe social menos privilegiada que a de Dr.Brooks, assim como de seu “protetor” branco no hospital, como se equivalesse o racismo e sua reação a ele (ou um racismo sobre o sinal invertido?) com a ignorância e os limites sociais estreitos. Por mais esquemático que igualmente possa parecer tal opção, talvez nenhuma das outras produções contemporâneas ou próximas que foram praticamente as primeiras a se deparar de fato com a questão racial de forma mais incisiva, tenha ido tão longe quanto essa – em O Que a Carne Herda, por exemplo, a protagonista é vivida por uma branca! Inclusive apresentando de forma quase didática tensões no interior do próprio grupo racial, sendo que a distância que se  lida com a tensão por parte de Brooks e de Lefty quase poderia antecipar, guardadas as devidas proporções, o debate televisivo que uma década e meia após se dá entre o pacifista Martin Luther King Jr. e a postura mais agressiva/aguerrida de Malcolm X (debate esse observado em Eu Não Sou Seu Negro, também exibindo trechos dessa produção). Tal como ao final de No Calor da Noite, a personagem-curinga desse filme, que parece oscilar entre o grupo do bem e do mal, Edie, tem aqui uma versão condensada do que seria sua redenção diante de seu ódio racial, ao ser amparada, contra sua vontade, pela empregada negra do Dr. Wharton. Na manhã seguinte, ela desfruta um café da manhã com a mesma e se despede civilizadamente dessa e da esposa de Brooks. Dito isso, é claro que o ódio mortal e racista vai ser sim personificado na figura do vilão por excelência da década: Widmark. Porém se se pode observa-lo como um arrefecimento da representação do ódio racial de setores sociais mais amplos também se encontra associado a cartilha da produção hollywoodiana, em que os dramas pessoais ganham ascendência sobre os coletivos – aqui apresentados somente um tanto secundariamente na reação negra atacando um grupo de brancos que foi, inclusive, censurada em vários estados americanos quando do lançamento do filme, temerosos que provocassem situações similares as aqui apresentadas. Que o próprio filme, no entanto, não tenha destacado o nome de Poitier senão após três outros não será um indicativo maior que simplesmente ser o filme de estreia do ator? Longe de visualmente distintivo, como regra são os filmes de Mankiewicz, consegue crescer em termos de interesse dramático após um início não muito alentador e se sair melhor que outros filmes de mensagem racial a serem interpretados por Poitier, como os que realizou para o papa do gênero, Stanley Kramer (Acorrentados, Adivinhe Quem Vem para Jantar), inclusive por conta da excelente direção de atores que lhe era igualmente habitual. 20th Century Fox Film Corp. 106 minutos.



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