Filme do Dia: Acabaram-se os Otários (2019), Reinaldo Cardenuto & Rafael Luna
Acabaram-se os Otários (Brasil, 2019). Direção:
Reinaldo Cardenuto & Rafael Luna. Montagem: Juliana Charleaux.
Dupla de caipiras, Bentinho e Xixilo se
encontram na estrada à caminho de São Paulo e se tornam parceiros. Encantados
com a modernidade da cidade, a atraem um vigarista que pretende
vende-los um bonde. A movimentação desperta a atenção de um policial, que acredita
ser a dupla os malfeitores. Libertos do policial, Xixilo sofre um acidente e
cai desacordado. Quando retorna a si, ele e Bentinho voltam a se deparar com o
guarda Grilo e ao fugir uma vez mais desse se encontram com duas “vamps”, que
os levam a um cabaré moderno, de músicas estrangeiras e frequentação
requintada. Lá, após uns números de tango, apreciados por Xixilo, e
ridicularizados por Bentinho, esses apresentam uma canção de quadrilha. O fim
da farra, descobre os heróis sem dinheiro para pagarem a conta e o retorno do
guarda Grilo ao encalço de ambos. Desulididos, voltam ao interior.
Reconstituição com os stills
sobreviventes e – redescoberta recente que em grande parte motivou a existência
desse curta – o reencontro de boa parte de seu material sonoro, gravado em
disco, faz com que a dupla de realizadores procure uma reconstituição possível
do título homônimo, considerado primeiro filme sonoro brasileiro e, tal como O
Cantor de Jazz, que levou essa fama internacionalmente dois anos antes do
brasileiro, apenas parcialmente sonoro. Em meio aos stills, observa-se
um dos pequeno trechos de imagens sobreviventes do filme do prolífico Lulu de
Barros, de longa carreira. Noutro, mais adiante, após terem
conseguido se livrar do policial, Xixilo é golpeado por um saco que lhe cai na
cabeça e fica desacordado. Indaga-se qual a origem das “cartelas” dessa versão,
se restou algum material original – como a que sinaliza para a duplicidade do
elogio a modernidade dos caipiras ser também dirigido a bela mulher que desce
de um bonde. Mais adiante, outra surpresa, a dupla protagonista dialoga sobre
os tangos, que Xixilo já conhecia de outros cantos, mas Bentinho, mais
provinciano em suas referências, não. Observa-se aqui a influência visível do
cinema hollywoodiano, na forma como é representado o policial – as roupas
chamativas dos caipiras são uma atração à parte, embora se deva também destacar
o escalonamento no caipirismo pouco comum na tradição do gênero, já que um
deles é estrangeiro, tem sotaque e conheceu Buenos Aires, enquanto outro é mais
genuinamente do interior paulistano. Brinca-se até com o nome da cidade de
origem de Genésio, Pindurassaia, numa atitude que se tornaria bastante comum no universo das histórias em
quadrinhos. Detalhe para o lançamento dessa reconstituição possível se dar aos
90 anos do lançamento original da película. Dedicado in memoriam a Jurandyr
Noronha, que preservou os proucos fragmentos sobreviventes aqui presentes. O
tema do caipira observado com olhar jocoso, e geralmente superior, do cidadão
urbano, havia sido motivo de se buscar provocar o riso desde o Primeiro Cinema,
com filmes e personagens (que os atores viviam em várias produções) como Uncle
Josh at Moving Picture Show e Rube and Many at Coney Island, e no
caso do cinema brasileiro provocaria um de seus personagens de maior apelo
popular e longeva carreira, posteriormente, Mazzaropi. Iniciando com os
créditos vinculados à produção de Lulu de Barros, finaliza com a equipe de
realização desse projeto. Já o original
contou com colaboração no roteiro de Menotti del Picchia. A produção de Barros
já havia rendido o título do documentário Acabaram-se os Otários – Nem
Parece um Filme Brasileiro, que não é sobre o filme original. 19 minutos e 16 segundos.
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