Filme do Dia: Ave, César! (2016), Ethan & Joel Coen

 


Ave, César! (Hail Caesar, EUA/Reino Unido/Japão, 2016). Direção, Rot. Original e Montagem: Ethan & Joel Coen. Fotografia: Roger Deakins. Música: Carter Burwell. Dir. de arte: Jess Gonchor, Cara Brower &  Dawn Swiderski. Cenografia: Nancy Haigh. Figurinos: Mary Zophres. Com: Josh Brolin, George Clooney, Alden Ehrenreich, Ralph Fiennes, Scarlett Johansson, Tilda Swinton, Frances McDormand, Channing Tatum, Jonah Hill, Veronica Osorio, Max Baker.

Anos 50. Eddie Mannix (Brolin) é o profissional do estúdio contratado para resolver todos os obstáculos referentes ao trabalho na companhia. Seus dias não são exatamente tranquilos quando tem que lidar com o sequestro do astro do épico Ave, Cesar!, história de Jesus contada a partir da perspectiva de um centurião romano, Baird Whitlock (Clooney), as fofoqueiras gêmeas Thora e Thessaly Tacker (Swinton) que pretendem divulgar rumores a respeito de Whitlock e da atriz de filmes de nado sincronizado DeeAnna Moran (Johansson). Ou ainda o herói cowboy Hobie Doyle (Ehrenreich), um tanto tosco quando deslocado para uma produção dramática dirigida pelo sofisticado Laurence Laurentz (Fiennes).

Na tradição da sátira escrachada à Hollywood, que inclui filmes tão diversos quanto 1941 (1979), de Spielberg ou Contrastes Humanos (1941), de Preston Sturges – aliás, realizador bastante aclamado pelos próprios Coen, como demonstra, inclusive, o título original de E Aí, Meu Irmão, Cade Você? (2000), o resultado infelizmente soa canhestro, apesar da forma original com que a história é narrada. Mesmo não lidando com perfis de atores reais do passado, reconhece-se referências bastante fortes a figuras como a colunista Hedda Hopper, aqui duplicada nas gêmeas ou a estrela das piscinas Esther Williams e coreografias a la Busby Berkeley. Já outras referências seguem antes a própria dramaturgia dos Coen, como os estúdios Capitol (presentes em Barton Fink) ou de outros realizadores hollywoodianos, como a presença de uma atriz de nome Carlotta Valdés (nome de uma personagem de Um Corpo que Cai, de Hitchcock). Não há como não evocar tampouco O Grande Hotel Budapeste, tanto por conta de seu padrão visual quanto pela presença de vários astros que também atuaram naquele. E, talvez em uma dimensão mais negativa, a da intensa força dos momentos isolados em detrimento de uma narrativa mais orgânica. O filme trabalha na chave de uma obra que sem deixar de lado toda a ironia cínica com que se reapropria de motivos associados a gêneros clássicos – noir, musical – por vezes propicia momentos de aderência mais amplos que o habitual aos mesmos, ainda que na chave do escracho que não esconde o fascínio-tributo. O auge disso é o número musical que marinheiros se divertem entre seus pares numa evidente alusão homo-erótica nunca expressa à época dos musicais clássicos e evocativa de Marujos do Amor. Suas pretensões de comicidade ficam aquém da média dos filmes da dupla, por mais inteligentes que sejam suas referências, sobretudo quando se apresenta o núcleo de comunistas que sequestram o astro e o mesmo vomita diante de Mannix toda a cantilena teórica sobre a alienação gerada pelo produto hollywoodiano, recebendo como resposta tapas na cara que o façam sair da “fantasia teórica” para a aberta e assumida fantasia do universo produzido pelos estúdios, algo que o próprio Mannix optou, ao abdicar da oferta generosa de se dedicar ao ramo da aviação. Brolin, que vive o personagem, é praticamente um sucessor de tipos similares na filmografia dos realizadores, notadamente – inclusive, em termos físicos – Jeff Bridges. Dentsu/Mike Zoss Prod./Working Title Films para Universal Pictures. 106 minutos.

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