Filme do Dia: The Drummer of the 8th (1913), Thomas H. Ince

 




The Drummer of the 8th (EUA, 1913). Direção: Thomas H. Ince. Com: Cyril Gardner, Mildred Harris,  Frank Borzage.

Duas famílias vizinhas possuem estreitos laços. O filho de uma namora a garota da outra. Seu irmão mais jovem, Billy (Gardner) é o melhor amigo de brincadeiras da irmã mais jovem. Porém, este mundo pacato é subitamente atingido pela declaração da Guerra Civil. O irmão mais velho de Billy parte. Este, ainda criança, proibido de se alistar pelos pais, foge e se engaja às escondidas como baterista de tambor.  Dois anos depois, o filho mais velho retorna, mas sem notícias de Billy. Este, tornado prisioneiro, consegue fugir e ouvir os planos do exército confederado de atacar a União. Mesmo ferido, consegue avisar aos soldados aliados. Descobrindo a presença de um espião pelas marcas de sangue, o exército confederado muda a estratégia e ataca pelo flanco não esperado. A família recebe com grande alegria uma carta de Billy sobre seu retorno com o regimento e a família prepara uma grande festa, porém todos são surpreendidos quando ele chega em um caixão carregado por seus companheiros do exército.

O que é mais notável neste filme em três rolos é não apenas o modo virtuoso com que Ince dispõe os personagens de forma privilegiada diante da tela como – e, talvez, principalmente, o modo relativamente pouco “sensacional” e sentimental com que tudo é apresentado, ao menos para os padrões do realizador, pródigo no excesso melodramático. A montagem,  mesmo não tendo um papel tão explicito quanto o teve nos filmes com cenas de perseguição contemporâneos de Griffith, é aqui aliada tanto para contrapontos cômicos, como o que dispõe os rituais de arrumação tanto de Billy quanto da garota vizinha de sua idade, demarcando as diferenças de gênero quanto dramáticos, como é a pungente expectativa de comemoração completamente solapada pela realidade da morte do garoto. Aqui, fundamentalmente, Ince preferiu tornar a montagem aliada no descompasso entre a expectativa festiva da família e a pré-consciência do espectador da morte do garoto, aliás sabiamente eclipsada em seu momento final. Assim como o mal entendido das estratégias de guerra,  ao invés de tentar chocar o espectador “juntamente” com a família ao final. De todo modo seu tableau final é um dos mais radicais anti-climaxes da curta história do cinema de então, operando o cinema geralmente com a lógica inversa, falta de esperanças revertidas para um retorno inesperado, tornando-se efetivamente dramático ainda quase um século após sua reallização.  Ince, inclusive, consegue ir além das situações demasiado simplificadas das tramas contemporâneas ao, por exemplo, marcar ironicamente o heróico feito do herói como a futura desgraça do próprio regimento. O filme cresce com detalhes preciosistas  como a detalhada fuga do garoto que dispõe de uma continuidade perfeita, aumentando o impacto realista desejado e fazendo, de certo modo, esquecer alguns momentos que hoje soam de involuntário humor, como o que uma batalhão confederado morre conjuntamente, jogando-se todos ao chão, quando se aproximam da trincheira inimiga. Gardner, após ter tido o rosto desfigurado três anos após, abandonou a carreira de ator, passando a ser montador e (após o início do sonoro) realizador, sendo este provavelmente o único filme sobrevivente de sua carreira diante das câmeas. Broncho Film Co. para Mutual. 28 minutos.

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