Filme do Dia: L'Inde Fantôme: On the Fringes of Indian Society (1969), Louis Malle

 


L’Inde Fantôme: On the Fringes of Indian Society (França, 1969). Direção: Louis Malle. Rot. Original: Guy Bechtel & Louis Malle.  Fotografia: Etienne Becker. Montagem: Suzanne Baron.

Mesmo quando aborda algo como os párias dos párias na Índia, já que nem mesmo fazendo parte da cosmovisão da socidade indiana, os aborígenes bondos, Malle em nenhum momento nos pretende iludir quanto ao seu isolamento completo dessa. Algo que primeiro é sugerido quando se sabe que também queimam seus mortos, fazendo-nos nos imaginar algum vínculo de cruzamento entre as culturas, desde o passado ou mais recentemente,  independente de qual influencie qual. E, posteriormente nos apresentando imagens do dia em que os bongos vão à feira, e vendem o que produziram trocando por rúpias que, segundo Malle, as mulheres rapidamente trocam, pelos inumeráveis colares que carregam – longe de serem produzidos pela própria aldeia. Apresentando primeiro, inclusive, a troca por dinheiro, antes de apresentar as trocar sem. Nos quais produtos diferentes são negociados caso a caso. Porém, ao mesmo tempo existe o que resiste à cultura indiana, e provoca tensão em alguma medida. Seja a forma de se vestirem, com as mulheres rejeitando os sáris, e homens e mulheres com as nádegas à mostra. Ou o fato de abaterem vacas. Seus dias de alteridade estão contados, como diz o realizador, apresentando uma parcela mais jovem, que já se junta aos indianos em empregos agrícolas ou obras por uns trocados, ingressando nos valores indianos como párias. O episódio não é dedicado exclusivamente aos bondos. Segue-se uma incursão pela única província em que há uma significativa presença cristã, demonstrada pelas várias igrejas – não muito diferentes de algumas brasileiras, arquitetonicamente, por sinal. Uma pequena comunidade judaica se encontra em vias de desaparecer, segundo uma membra, já que muitos partiram para Israel, os filhos são poucos e as uniões apenas se dão entre eles, possuindo todos um nível de parentesco próximo. outro afirma que a Índia foi o único país que os judeus nunca tiveram problemas. Malle os observa como certa excrescência condenada ao desaparecimento – talvez de forma ainda mais rápida que os bondos, observação que não faz – ao não se permitirem se miscigenar com os indianos. Retraídos de suas vidas anteriores, estrangeiros como um italiano, uma sueca e também um indiano, contam das motivações que os levaram ao Ashram, movimento religioso então crescente.  Ambu, mestre dos exercícios de ioga no Ashram, exibi-se com seu tapa-sexo minúsculo, em sua incrível capacidade de alongamento, pondo as pernas por trás da cabeça, por exemplo. Exibição finda, Ambu mune-se de seus óculos fundo de garrafa e explica sobre os benefícios das práticas, e bem humorodamente assume não praticá-la todos os dias por preguiça. Trata-se de um grupo de pessoas endinheiradas. Que trouxeram suas fortunas consigo, daí o alto nível dos alojamentos e a qualidade impecável da estrutura escolar de suas crianças. Todos os minutos dedicados ao movimento são postos em questão na fala de um francês, que afirma que toda experiência espiritual advém de certa agonia espiritual, e que ela inexiste no Ashram. Junto aos Todas, última manifestação que Malle trabalha “nas franjas da sociedade”, como afirma o título do sexto e penúltimo episódio da série, Malla abraça um tom abertamente etnográfico, talvez mais intenso que em qualquer outro momento da mesma, observando desde rituais até apresentando a cosmogonia do grupo, e o que lhes é tido como puro ou impuro. Nessa cultura, o Estado indiano já interveio de forma mais incisiva e predatória que com os bongos, indo fazer uso de seu território para plantar árvores que produzam terembentina. 52 minutos.

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