O Dicionário Biográfico de Cinema#113: Sarah Polley


 Sarah Polley (Toronto, Canadá, 1979). 

1999: The Best Day of All My Life (c); Don't Think Twice (c). 2001: I Shout Love (c). 2002: All I Want for Christmas [Um Pedido de Natal]. 2004: The Harp, um episódio de The Shields Stories. 2006: Away from Her [Longe Dela]. 2011: Take This Waltz [Entre o Amor e a Paixão]. 2012: Stories We Tell [Histórias que Contamos].

De todas as novas entradas para a quinta edição desse livro, nenhuma é mais merecida que essa. Se Sarah Polley está envolvida em um projeto, preste atenção. Não, não quero dizer que na faixa dos 30, ela chegou a algum território intocável, onde não pode fazer algo errado. É exatamente o ponto a ser dito - como ela diria, penso - que  se arrisca com materiais difíceis e talentos raros, e risco é somente retórica vazia se não deixa lugar ao fracasso. Sarah Polley é honesta em muitas coisas, incluindo a política à esquerda, e seu sentimento que os verdadeiros filmes independentes estão sempre contribuindo para essa causa. Como atriz, poderia ter sido "estrela" há muito tempo, mas decidiu permanecer canadense, no modo como confia em uma chama interior e silenciosa e retraída, na maioria de seus personagens. Virou pelo avesso empreendimentos de carreira - como Almost Famous [Quase Famosos] - portanto é fundamental que se observe que carreira extraordinária já teve. 

Filha de dois atores (sua mãe faleceu quando Sarah tinha onze anos), Polley foi uma atriz-mirim: One Magic Christmas [O Natal Mágico] (85, Phillip Borsos); Confidential (86, Bruce Pittman); realizou material de Margaret Atwood em Heaven on Earth (87, Allan Kroeke); Prettykill [Querida Assassina] (87, George Kaczender); Blue Monkey [Inseto] (87, William Fruet); e como a personagem-título da série de TV Ramona. Esteve em The Adventures of Baron Munchausen [As Aventuras do Barão Munchausen] (87, Terry Gilliam); em Lantern Hill (90, Kevin Sullivan); e então na série de TV Road to Avonlea (1990-96).

Como jovem adulta, sua profundidade foi assinalada interpretando uma garota que sobrevive um acidente, mas aleijada, tendo todos seus sonhos ameaçados, em The Sweet Hereafter [O Doce Amanhã] (97, Atom Egoyan). E, desde então, sua escolha de material tem sido pessoal e corajosa: The Hanging Garden (97, Thom Fitzgerald); Jerry and Tom (98, Saul Rubinek); White Lies (98, Kari Skogland); Last Night [A Última Noite] (88, Don McKeller); capturando a atenção como a garota fotografada em Guinevere [A Lente do Desejo] (99, Audrey Wells); eXistenZ (99, David Cronenberg); Go [Vamos Nessa] (99, Doug Liman); The Life Before This (99, Jerry Ciccorriti); em um curta, This Might Be Good (00, Patricia Rozema); Love Come Down (00, Clement Vigo); The Weight of Water (00, Kathryn Bigelow); The Law of Enclosures [Uma Chance Para o Amor] (00, John Greyson); The Claim [Riqueza Perdida] (00, Michael Winterbotton).

No Such Thing [Beatrice e o Monstro] (01, Hal Hartley) foi um revés, mas ela estava trabalhando tão arduamente, que dificilmente foi sentido: The I Inside [O Terceiro Olho] (03, Roland Suso Richter); The Event (03, Fitzgerald); e então My Life Without Me (03, Isabel Coixet), sobre uma jovem que aprende a ter câncer; Dermott's Quest (03, Grimur Ardal); Luck (03, Peter Wellington); e então, em uma partida, como uma membra da população sitiada em Dawn of the Dead [Madrugada dos Mortos] (04, Zack Snyder).

Esteve em Slings and Arrows (03), na TV; Sugar (04, John Palmer); Siblings (04, David Weaver); fazendo o seu melhor em Don't Come Knocking [Estrela Solitária] (05, Wim Wenders); e trabalhando com Coixet novamente em The Secret Life of Words [A Vida Secreta das Palavras] (05), uma obra-prima na qual é uma jovem perturbada que busca cuidar de vítimas de queimaduras e encontra Tim Robbins. Beowulf & Grendel [A Lenda de Grendel] (05, Sturla Gunnarson), feito na Islândia; e em desempenho excepcional, como a filha Abigail, na série de TV John Addams (08, Tom Hopper); Splice [Splice - A Nova Espécie] (10, Vincenzo Natali).

Resumindo, a atriz entregou três ou quatro grandes atuações, enquanto ajudava a sustentar algumas dúzias de empreendimentos marginais. E tudo isso com a idade de 30. Mas isso não é tudo. Ela é diretora também, e Longe Dela é um dos melhores filmes modernos sobre as estranhas realidades (e epifanias) da vida que o cinema comercial proporcionou. Em sua interpretação central - por Julie Christie - Sarah Polley nos mostrou que certas caracterizações na ficção podem ser de tão longo alcance quanto o espaço, a alta matématica ou o projeto genoma. Nos mostrou algo que nunca havíamos visto antes, e tornou-o parte de nossa cultura - perturbador, "louco" se desejar, mas lugar-comum. Histórias que Contamos é um documentário, mas vai bem além, uma análise da busca de histórias em nossas próprias vidas, feito com grande habilidade e sentimento contido. Foi um dos mais importantes documentários sobre o tempo, quando muitos diretores o tomavam como garantido.

Texto: Thomson, David. The New Biographical Dictionary of Film. Nova York; Alfred A. Knopf,   pp. 2092-94. 

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