Filme do Dia: Um Domingo no Campo (1984), Bertrand Tavernier

 


Um Domingo no Campo (Un Dimanche à la Campagne, França, 1984). Direção: Bertrand Tavernier. Rot. Adaptado: Bertrand Tavernier & Colo Tavernier, baseado no romance Monsieur Ladmiral Va Bientot Mourir, de Pierre Bost. Fotografia: Bruno de Keyzer. Música: Louis Ducreux, Gabriel Fauré &  Marc Perrone. Montagem: Armand Psenny. Dir. de arte: Patrice Mercier. Figurinos: Yvonne Sassinot de Nesle.   Com Louis Ducreoux, Sabine Azéma, Michel Aumont, Geneviéve Mnich, Monique Chaumette, Thomas Duval, Quentin Ogier, Katia Wostrikoff.

Monsieur Ladmiral (Ducreoux) é um pintor impressionista viúvo que vive no início do século tendo como companheira Mercedes (Chaumette), que toma conta da casa há anos. Todos os domingos seu filho, Gonzague (Aumont) visita-o com a família, composta da mulher, Marie-Therése (Mnich) que Ladmiral nunca acreditou ser adequada para o mesmo e que também possui suas reservas quanto ao sogro, e os netos. Menos freqüentemente também recebe a visita da filha Irène (Azéma), emancipada e feminista precoce, que separou-se do marido e possui amantes. Embora menos dedicada e conservadora que o filho, acaba sendo a predileta do pintor por seu espírito jovial, o que desperta um certo ciúme por parte do filho, que não possui qualquer expressividade. Ela o leva para dançar em um local popular e afirma que ele deveria retratar mais o movimento, como num quadro que encontrara, pintado pelo pai na juventude, presa de um ardor rapidamente abandonado. Menos interferindo que observando as pequenas relações familiares que se desenvolvem ao longo do dia,  Ladmiral se desgosta quando a filha resolve abandonar subitamente a reunião familiar, para ir ao encontro do amante. Despede-se então do filho e da família e retorna para casa, onde procurará iniciar do zero um quadro que já havia esboçado.

A preferência quase exclusiva de Tavernier por planos abertos, assim como a caprichada fotografia e direção de arte procuram reproduzir o universo pictórico impressionista do protagonista, porém tudo isso e mais o virtuoso trabalho de câmera e os aborrecidos e desnecessários comentários over do narrador, não conseguem encobrir a falta de vitalidade do filme. Desse modo o que se reproduz à risca  é o estilo pouco original do pintor que retrata, a quem sua filha se refere, comentando um quadro típico seu, como clássico e desapaixonado. Os personagens, extremamente limitados a reproduzirem tipos novelescos superficiais, destacando-se a oposição entre o conservadorismo da família do filho e o estilo moderno da filha, tornam-se pouco dignos de interesse, já que demasiado esquemáticos, assim como o próprio Ladmiral, uma figura involuntariamente patética. O momento que potencialmente seria o mais dramático, o único em que o cineasta utiliza planos mais fechados nos rostos dos atores, em que pai e filha saem juntos, e esse conta sobre uma premonição de sua própria morte que tivera ao dormir pouco antes, torna-se tão pouco convincente quanto o restante. Procurando retratar também a nova sensibilidade burguesa, que se atormenta com a idéia de ver seus filhos maltratando pequenos insetos ou que muito se esforça para poder subir poucos palmos de uma árvore, finda por se contaminar pela modorrência da mesma. E o que é pior é que tudo parece milimetricamene planejado para ser percebido como artístico, como a dissolução da imagem a partir da toalha branca de um piquenique, evocativa de Bergman seja na forma (Gritos e Sussurros), seja no conteúdo (Morangos Silvestres, entre outros). Ou a utilização de dolly shots no início e final, e no momento em que a filha se encontra em crise. Como homenagem a Renoir, que possui seu Um Dia no Campo (1936), o filme  evoca o papel que a profundidade de campo ganha na obra do cineasta, esquecendo o principal: a vitalidade do velho mestre.   Lançado no cinema e em vídeo como Um Sonho de Domingo. Prêmio de direção no Festival de Cannes. Films A2/Little Bear/Sara Film. 120 minutos.         

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