The Film Handbook#165: Don Siegel

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Don Siegel
Nascimento: 28/10/1912, Chicago, Illinois, EUA
Morte: 20/04/1991, Nipomo, Califórnia, EUA
Carreira: 1945-1982

É talvez singular que Donald Siegel, um dos melhores diretores de filmes de ação dos Estados Unidos, tenha permanecido fiel ao modesto espírito de seus thrillers B de início de carreira, mesmo quando uma sucessão de sucessos de bilheteria ao final dos anos 60, pelo menos proporcionou-lhe orçamentos maiores e maior liberdade. Tal foi sua habilidade de transcender as limitações de financiamento, no entanto, que o melhor de suas primeiras produções foi tão tenso, habilidoso e excitante quanto sua célebre série de colaborações com Clint Eastwood.

Formado no Jesus College, Cambridge, Siegel primeiro trabalhou  no acervo de filmes dos Warners, antes de se tornar montador e então chefe do departamento de montagem do estúdio; ao filmar curtas sequencias de lapsos temporais para filmes como Heróis Esquecidos/The Roaring Twenties e Casablanca, tornou-se reconhecido pela hábil caracterização e economia narrativa - qualidades evidentes ao longo de sua carreira. Por fim, em 1946, após dirigir dois curtas ganhadores do Oscar (Star in the Night, Hitler Lives?), realizou sua estreia na direção com Justiça Tardia/The Verdict, leve mas taciturno pequeno thriller ambientado em uma Londres vitoriana e estrelado por Sidney Greenstreet, enquanto detetive relutantemente aposentado da Scotland Yard dobrado à vingança mortal: o primeiro dos diversos policiais trapaceiros de Siegel. Mais típico de sua obra futura, no entanto, foi Cais da Maldição/The Big Steal, que mesclava comédia de humor negro com cenas de ação habilidosamente encenadas (o filme inteiro é uma perseguição, com um herói inocente seguido ao longo do México por um oficial da folha de pagamentos do Exército corrupto). Ao longo dos anos 50, Siegel alternou thrillers e westerns rotineiros com material mais sutil, a maior parte do qual focada em marginais no limite da sociedade, frequentemente apresentados como intensamente dividindo seus impulsos irracionais entre a violência e a necessidade de auto-controle.

No duro e arrojadamente realista Rebelião no Presídio/Riot in Cell Block 11>1, o líder de uma gangue de prisioneiros mantém os carcereiros reféns em uma luta por melhores condições, brigando continuamente contra sua própria ira e brutalidade; Vampiros de Almas/Invasion of the Body Snatchers>2, uma ficção científica clássica alegórica sobre a paranoia dos anos 50, focava no único sobrevivente de um ataque alienígena em uma pequena cidadezinha americana que, visando o conformismo que destrói o mundo, transforma-o em réplicas frias e sem emoção;  Rua do Crime/Crime Street, apresentando uma performance impressionantemente vigorosa de John Cassavetes, é um forte estudo da delinquência juvenil, enquanto Assassino Público Número 1/Baby Face Nelson e O Sádico Selvagem/The Lineup>retratam, respectivamente, o gangster e dois assassinos contratados como psicóticos em um  mundo hostil. Nunca efetuando uma explícita defesa liberal, Siegel revela uma simpatia não sentimental  por seus anti-heróis através de suas vibrantes caracterizações, e raramente permite que a ação violenta ofusque seus personagens.

No início dos anos 60, Siegel foi forçado a alternar longas metragens com trabalhos para a televisão; de fato, após Estrela de Fogo/Flaming Star (um ríspido estudo do preconceito aos indígenas e o melhor veículo para Elvis Presley) e O Inferno é para os Heróis/Hell Is for Heroes (que observava o heroísmo de guerra como violência psicopática) ele refez Os Assassinos/The Killers>4 de Siodmak, enquanto o primeiro filme filmado especificamente para a TV. Uma história fria e cínica da tentativa de dois pistoleiros de descobrir, numa série de flashbacks narrativos, porque foram contratados a matar um homem, tendo sido considerado demasiado violento para a telinha e lançado no cinema; de fato, Siegel estabeleceu seu senso elétrico na primeira cena enquanto a dupla ameaça a equipe e residentes de uma instituição para cegos e, a partir de então, mais sugere que apresenta brutalidades. Telefilmes posteriores (The Hanged Man, A Caçada/Stranger on the Run) foram igualmente ambiciosos mas menos bem executados, e foi Os Impiedosos/Madigan, um complexo e duro como prego thriller policial colocando um comissário liberal contra um implacável policial pragmático, ressentido dos burocratas que observou o reencontro de Siegel e o universo do filme de longa-metragem.

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Clint Eastwood discute uma cena com seu diretor e mentor Don Siegel, em locação de Perseguidor Implacável/Dirty Harry

Com Meu Nome é Coogan/Coogan's Bluff (que contrapunha os métodos de perseguição de um delegado do Arizona, enquanto ele trilha os cânions de concreto de Nova York com aqueles do departamento de polícia) Siegel iniciou sua frutífera colaboração com Clint Eastwood. Os Abutres Têm Fome/Two Mules for Sister Sara foi um western irregular e esporadicamente divertido; O Estranho Que Nós Amamos/The Beguiled (um soldado Yankee, ferido na Guerra Civil, seduz pupilas e professoras em um seminário reservado a garotas, somente para descobrir que suas decepções despertaram um desejo letal por vingança). Mais impressionante de todos, no entanto, Perseguidor Implacável/Dirty Harry>5, um estudo complexo e profundamente ambivalente de um tira cuja ética de vigilância e métodos brutais levam a um conflito colérico com seus superiores. Sem esconder a intolerância do homem, Siegel revela uma aguda compreensão das contradições pelas quais a sociedade demanda ser protegida do crime mas desconfia daqueles que emprega para o serviço. Bem menos problemático, mas igualmente beneficiado pela energia do diretor, seu estilo linear de narrativa em um nítido e organizado senso visual foi O Homem que Burlou a Máfia/Charley Varrick>6, no qual a batalha triunfante de um criminoso contra a Máfia celebra "o último dos independentes": um título talvez adequado ao próprio Siegel.

Desde então, apesar de tecnicamente bem sucedido, os filmes de Siegel se tornaram mais erráticos. O Moinho Negro/The Black Windmill, O Telefone/Telefon, Ladrão por Excelência/Rough Cut e Jogando com a Vida/Jinxed! (uma problemática produção com cenas difusas de humor negro), sofreram com com roteiros irregulares; O Último Pistoleiro/The Shooting>7, por sua vez, foi um western soberbamente lírico e elegíaco sobre um pistoleiro envelhecido que chega a um ponto pacífico com o câncer, e um comovente tributo a seu astro, John Wayne; enquanto Alcatraz - Fuga Impossível/Escape from Alcatraz, com Eastwood como um condenado que pacientemente cava o túnel que lhe levará para fora da prisão, com um par de cortador de unhas, foi um impressionantemente austero estudo sobre a  indominável natureza humana. Ambos filmes, sutilmente filmados, sugerem um amadurecimento do áspero individualismo de Siegel.

Trabalhando com orçamentos modestos e em gêneros grandemente suspeitos, Siegel, no entanto, foi capaz de imprimir sua assinatura artística em uma notavelmente alta proporção de seus filmes. Sua apresentação da violência nunca fui gratuita, nem tampouco sacrificou engenhosidade, personagem ou fluência narrativa por demandas de ação. Em sua melhor obra, a inteligência é equilibrada com excitação e vitalidade.

Cronologia
Marcado por seus anos nos Warners, Siegel pode ser visto como um sucessor de diretores de ação como Walsh e Hawks, e pode-se compará-lo com figuras como Fuller e Aldrich. Ele próprio influenciou claramente  Peckinpah (seu antigo assistente) e Eastwood

Leituras Futuras
Don Siegel (Londres, 1977), de Alan Lovell
The Hollywood Professionals Vol.4 (Nova York, 1974). de Judith M. Kass

Destaques
1. Rebelião no Presídio, EUA, 1954 c/Neville Brand, Emile Meyer, Leo Gordon

2. Vampiros de Almas, EUA, 1956 c/Kevin McCarthy, Dana Wynter, Larry Gates

3. O Sádico Selvagem, EUA, 1958 c/Eli Wallach, Robert Keith, Warner Anderson

4. Os Assassinos, EUA, 1964 c/Lee Marvin, John Cassavetes, Angie Dickinson, Ronald Reagan

5. Perseguidor Implacável, EUA, 1971 c/Clint Eastwood, Harry Guardino, Andy Robinson

6. O Homem que Burlou a Máfia, EUA, 1973 c/Walter Matthau, Joe Don Baker, Andy Robinson

7. O Último Pistoleiro, EUA, 1976 c/John Wayne, Lauren Baccall, Ron Howard, James Stewart

Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 263-5.

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