Filme do Dia: As Aventuras de Pi (2012), Ang Lee
As Aventuras de Pi (Life of Pi, EUA/Taiwan/Reino Unido/Canadá, 2012).
Direção: Ang Lee. Rot. Adaptado: David Magee, baseado no romance de Yann
Martel. Fotografia: Claudio Miranda. Música: Mychael Danna. Montagem: Tim
Squyres. Dir. de arte: David Gropman, Al Hobbs, Ravi Srivastava, James F.
Truesdale & Dan Webster. Cenografia: Terry Lewis & Anna Pinnock.
Figurinos: Arjun Bhasin. Com: Suraj Sharma, Irrfan Khan, Ayush Tandon, Gautam
Belur, Adi Hussain, Tabu, Rafe Spall, Vibish Sivakamur.
Pi Patel (Sharma) é um
adolescente que vai triste e com o coração partido da Índia para o Canadá,
abandonando sua amada, pois não há mais condições de se manter os animais no
zoológico que era propriedade familiar, levando consigo os animais no barco.
Uma tempestade os acomete no ponto mais profundo do oceano e Pi permanece
sozinho no bote com um tigre, uma zebra, um orangotango e uma hiena. Com a
morte de todos eles, fica somente Pi e o tigre, que ele chama de Richard Parker
. Após muito sofrimento, inclusive para se manter à salvo das garras do tigre,
e uma tempestade que faz com que Pi se amarre ao próprio barco, eles amanhecem
acostados numa ilha misteriosa, que destrói à noite tudo que havia dado vida
pela manhã. Quando Pi descobre um dente humano dentro de um flor carnívora
percebe que é tempo de continuar sua jornada. Sentindo que a morte se aproxima
e já no limite de suas forças físicas, Pi consegue se aproximar do igualmente
enfraquecido Richard Parker, pousando a cabeça dele em seu colo. Porém, com a
chegada na Costa do México, Pi não mais possui forças para se arrastar para
além da areia e o tigre simplesmente parte, sem qualquer esboço de despedida.
Lee consegue
uma façanha não muito usual em filmes desse porte, que é de instilar
inteligência em produções caras e repletas de efeitos visuais. Aliás todo o
desenho de produção do filme e seu caráter hiper-digitalizado, adequa-se à
perfeição ao universo onírico fabular, num casamento igualmente raro. Sua
inteligência desponta em apresentar uma narrativa popular, ou mesmo
popularesca, evocativa dos universos exóticos que o cinema clássico tantas
vezes articulou (como em O Ladrão de Bagdá), porém permeada por um caráter auto-reflexivo, onde a moldura que
compreende a narrativa fantasiosa, representada por um Pi adulto contando sua
narrativa para o futuro escritor da mesma, tanto a reforça quanto a questiona
em termos de verossimilitude. À
perfeição do realismo dos efeitos digitais dos animais e das paisagens,
poucas vezes igualada e utilizada mais como elemento de apoio na construção de
seu universo fantástico se adiciona uma trilha musical demasiado redundante.
Concessões não deixam de ser feitas tampouco a uma sensibilidade
místico-relogiosa em chave de auto-ajuda, que acaba por equiparar a travessia
de Pi à própria jornada humana, seus obstáculos e a necessidade de perseverar
para se atingir a vitória final. A ambiguidade presente no discurso final, em
que Pi sugere que, na verdade, os animais bem poderiam ser sua mãe, o
cozinheiro e o oriental, mais que a história se torna muito mais interessante
da forma na qual foi contada mina ou ao menos evidencia que o fato de sabermos
nos encontrarmos diante de uma ficção demasiado fantástica para ser crível –
papel aqui relegado, em termos diegéticos, sobretudo aos agentes de seguro que
vão investigar sobre o afundamento do barco – nem por isso nos impede de
adentrarmos nela e a vivenciarmos de forma plena. A referência do pai de Pi
sobre ele ter observado equivocadamente nos olhos do tigre algo além de sua
condição animal mais parece ter saído das reflexões de Werner Herzog em O Homem Urso, algo que ele retornará a
pensar quando do momento da separação do animal. Fox 2000
Pictures/Haishang Films/Rhytm and Hues para 20th Century Fox Film Corp. 121
minutos.
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