Filme do Dia: Te Prometo Anarquía (2015), Julio Hernández Córdon
Te Prometo Anarquía
(México/Alemanha, 2015). Direção e Rot. Original: Julio Hernández Cordón.
Fotografia: Mario Secco. Música: Eric Bongcam. Montagem: Lenz Claure. Dir. de
arte: Liz Medrano. Figurinos: Andrea Manuel. Com: Diego Calva Hernández,
Eduardo Eliseo Martinez, Shvasti Calderón, Oscar Mario Botello, Gabriel
Casanova, Sarah Minter, Martha Claudia Moreno, Diego Escamilla Corona.
Miguel
(Hernández) é um skatista de classe média que, juntamente com seu amante
bissexual Johnny (Martinez), filho da
empregada de sua família, compra drogas
a partir do aliciamento das pessoas do meio em que circulam para vender sangue
para traficantes de drogas. Porém, se todas as vezes o negócio foi tranquilo, o
que o ator de peças publicitárias arranja agora para eles é sinistro. O grupo
se apodera do carro de Miguel e desaparece com a meia centena de pessoas que
eles haviam conseguido, incluindo o amigo querido deles Techno (Corona) e a
namorada de Johnny, Adri (Calderón).
O
título evidentemente sinaliza talvez menos para os personagens envolvidos,
sobretudo o casal principal, que para o espectador desavisado ou, ao contrário,
demasiado avisado. E uma anarquia que talvez seja menos a dos jovens hedonistas
como parecia ser o apelo a partir das fotos mais utilizadas em sua divulgação
que do próprio México, mesmo que a mesma se encontre longe de ser mais que
tocada. Parte-se de uma premissa de um tema sensacionalista capaz de gerar
certa tensão (o tráfico de sangue ilegal com traficantes de drogas) e se
associa a isso um universo de apelo jovem, descolado, gay e quando não ao menos
homoerótico potencialmente. Porém, infelizmente as saídas são demasiado fáceis,
pouco convincentes e um tanto autocomplacentes, tal como a sua açucarada
trilha, um dos males a igualmente infestar o cinema queer francês de tempos
atrás. Calva Hernández dá conta de seu personagem e o elenco em geral não se
sai mal. Falta, no entanto, mais saídas tocantes a partir de motivos
relativamente simples, como os amigos se abraçando sofridos e desesperados em
meio uma passarela de pedestres, trabalhando de forma bastante interessante o
contraste entre a explosão emocional em meio a indiferença cinzenta de veículos
e pessoas de um inóspito e impessoal ambiente que é a metrópole (situação que
já havia sido explorada, a partir de uma premissa similar, mas com bem mais apuro
poético, por Julio Bressane, em Matou a
Família e Foi ao Cinema). Uma das possibilidades de um filme que toca de
forma tão superficial em tudo seria um final um pouco mais verossímil e se
imaginar que o Johnny que surge, como num passe de mágica, às costas de Miguel
em seu exilio voluntário norte-americano não passaria mais do que um relance de
fantasia e não mais uma forma de apresentar um final afirmativo um tanto
deslocado dentro do contexto apresentado. E mesmo que assim o seja, que esse
final seja uma licença poética do realizador, a partir do imaginário romântico
de seu protagonista adolescente, não mudará muito o efeito final. Para não falar de toda uma série de
penduricalhos que não dizem a que vieram, em termos dramáticos, como a própria
personagem de Adri – que existe apenas para que se pense em reforçar o pathos pelo que ocorreu na dupla, já que
dela não se tem o mínimo vislumbre de nada? No final de contas, há um cheiro
nada interessante de uma exploração um tanto voyeurística de jovens em situação
de risco – e esse risco poderia ser duplicado aqui em termos do risco da
representação deles pelo filme e não apenas da situação ficcional envolvida –
em nada dessemelhante de um realizador como Larry Clarke. Quarto longa do
cineasta guatemalteco, que parece ter uma queda por personagens similares em
algumas de suas outras produções. Interior13 Cine/FOPROCINE/Rohfilm. 86
minutos.
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