Filme do Dia: Coração Iluminado (1998), Hector Babenco
Coração Iluminado (Corazón Iluminado, Brasil/Argentina/França/EUA,
1998). Direção: Hector Babenco.
Rot.Original: Hector Babenco & Ricardo Piglia. Fotografia: Lauro Escorel.
Música: Zbigniew Preisner. Montagem: Mauro Alice. Com: Walter Quiroz, Maria
Luisa Mendonça, Norma Aleandro, Villanueva Cosse, Xuxa Lopes, Oscar Ferrigno, Miguel Ángel Sola.
Argentina,
final dos anos 50. Garoto sensível, Juan (Queiroz), torna-se vítima dos seus
colegas de escola que lhe perseguem e tiram sua roupa na frente de todos
os estudantes, acusando-lhe de judeu. Afasta-se da escola e se aproxima de um
grupo de esotéricos que possuem um plano excêntrico de tentar criar uma câmera
que fotografe a aura das pessoas. Certo dia, Ana (Mendonça), leva para o grupo
seu namorado advogado, que resolve bancar a experiência. Curiosamente apenas o
rosto de Ana foi ofuscado por um flash de luz. Juan passa a se envolver com
Ana, que lhe revela seu passado de internações psiquiátricas. Desestruturada
emocionalmente, Ana afunda no inferno das drogas, levando consigo Juan. Após
fugirem de um cafetão, que a utilizava para fazer sexo com seus amigos, Ana é
internada pela família em um hospital psiquiátrico. De lá foge com Juan e
partem para uma cidade provinciana, onde ela é retirada por enfermeiros do
quarto em que dormem, após ter sofrido um princípio de overdose. Juan é quem
bancara a viagem, após roubar uns cheques do pai (Cosse), que trabalha como
vendedor. No avião que retorna para a
argentina, 20 anos depois, para ver o pai que se encontra na UTI, o agora bem
sucedido Juan (Sola), procura pelo paradeiro dos antigos amigos. Vai ao
apartamento de Ana e encontra-se com o seu marido. Juan conhece a misteriosa
Lilith (Lopes), numa igreja, segue-a até seu apartamento, onde fazem amor nas
escadas. Ele a reencontra na mesma praia que frequentava com Ana.
Acreditando se tratar de uma nova encarnação de Ana, embora fale com a própria
Ana pelo interfone, que se recusa em vê-lo, após a morte do pai, Juan se despede da mãe
(Aleandro) e mata literalmente Lilith. Já no avião, voltando para casa, descobre
na foto revelada a mesma aura a ofuscar o rosto de Lilith.
O
mais autoral dos filmes de Babenco até então, dedicado à memória de seu pai, é
irregular. Embora consiga criar uma atmosfera e ritmo interessantes (auxiliado
pela trilha de Preisner, habitual colaborador de Kieslowski, e a bela
fotografia de Escorel), a relação entre Juan e Ana soa inconvincente, em grande
parte devido as limitações da interpretação de Queiroz, assim como Babenco
carrega nos clichês ao apresentar o vício de Ana por anfetaminas. Embora seja
criativo ao enveredar de forma entre surreal e realista nas obsessões do
protagonista por um tipo de mulher,
essas não se desenvolvem de forma mais consistente, como fez, por
exemplo Buñuel em Esse Obscuro Objeto do
Desejo (1977) e a representação literal da morte de Lilith como uma
alegoria para a superação do trauma infantil de Juan soa forçosa. Aludindo a Jules e Jim (1961) de Truffaut, que é
exibido em um festival de cinema na juventude do alter-ego do cineasta, talvez
uma certa busca de um espontaneísmo poético, que já soara artificial no filme
de Truffaut, é que comprometa em grande parte as pretensões de Babenco. Nesse
sentido se encontram alguns momentos dispensáveis do filme, como a seqüência
esotérica na praia e, pior ainda, a cena que Lopes canta My Foolish Heart. Porém não
há como negar também tanto a presença de
uma veia de sentimento autêntico quanto um olhar grandemente apaixonado pelo
tema e seus personagens que são o ponto forte do filme.Um dos melhores momentos
é o que Ana e Juan dançam no inferninho, como que conseguindo sublimar por
instantes o ambiente e a situação de completa decadência. TV Cultura/ Le Studio Canal/ HB Filmes/ Oscar Kramer
S.A./ Flach Film/ Sony Pictures Entertainment. 130 minutos.
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