Filme do Dia: Coração Vagabundo (2008), Fernando Grostein Andrade
Coração Vagabundo (Brasil, 2008). Direção e Fotografia:
Fernando Grostein Andrade. Rot. Original: Giuliano Cedroni. Música: Guilherme Wisnik. Montagem: Fernando
Grostein Andrade, Manga Campion & Ana Claudia Streva.
Documentário que registra os
bastidores de uma turnê empreendida por Caetano Veloso em São Paulo, Nova York
e Osaka. Talvez o momento que melhor o defina seja logo ao início, a imagem de
Caetano nu no banheiro, entrevisto de relance. O próprio filme realizará, de
certo modo, essa proximidade que jamais se efetiva de todo já que, como o
próprio Caetano fala, no que talvez seja seu momento mais interessante, o que é
da ordem da angústia pessoal não se fala, no máximo se tenta expressar, no seu
caso, através de uma canção que pensou em fazer quando estava aterrizando só e
vulnerável em Los Angeles. Noutro momento interessante, Caetano fala do quanto é o oposto da figura do mito
emblemático e obscuro, ao estilo Bob Dylan, o que acaba decepcionando muito as
pessoas. E, no momento mais visualmente inspirado, passeando entre bambuzais,
reflete sobre o tempo, a velhice, o melhor trato com a ansiedade e a
perspectiva de nascimento do primeiro neto. Em outro, emociona-se ao saber que
um monge budista adora a canção-título do filme. O que sustenta todo o filme é
de fato o próprio Caetano, não sua música, nem muito menos as participações um
tanto quanto episódicas e que pouco acrescentam de alguns de seus amigos
internacionais como David Byrne, Michelangelo Antonioni ou Pedro Almodóvar.
Aliás, essa contraposição entre o provinciano garoto que viveu até os 18 anos
em Santo Amaro e uma certa exigência de cosmopolitismo que se força a si
próprio também se encontra presente ao longo do filme. Boa parte das reflexões
de Caetano se dá entre caminhadas, momentos talvez bastante propícios para tais
comentários ou associações de idéias. Inicia com uma menção ao célebre discurso
exaltado de Caetano no Festival da Música Popular Brasileira que não chega a
ser ouvido ou visto. Cine/Natasha Filmes para Paramount Pictures do Brasil. 71
minutos.
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