Filme do Dia: Uma Nova Amiga (2014), François Ozon
Uma
Nova Amiga (Une
Nouvelle Amie,
França, 2014). Direção: François Ozon. Rot. Adaptado: François Ozon, a partir
do romance de Ruth Rendell. Fotografia: Pascal Marti. Música: Philippe Rombi. Montagem: Laura
Gardette. Dir. de arte: Michel Barthélémy & Pascal Leguellec. Cenografia: Nathalie
Roubaud. Com: Romain Duris, Anaïs Demoustier, Raphaël Personnaz, Isild Le
Besco, Aurore Clément, Jean-Claude Bolle-Reddat, Bruno Pérard, Claudine Chatel.
Claire (Durís), deprimida com a morte da amiga de
uma vida, Laura (Le Besco), hesita se aproximar do viúvo da amiga David (Duris)
para não encontrar o bebê do casal, que lhe faz lembrar a amiga morta. Não
resiste e certo dia faz uma visita a residência de David, flagrando-o
travestido com a criança. David afirma a
uma surpreendida Claire, que Laura sempre soubera de seu desejo de se travestir,
mas que nunca sentira necessidade quando vivera com ela. Claire se aproxima de David, passando a
chama-lo de Virginia. A proximidade de ambos desperta os ciúmes do marido de
Claire, e Claire inventa que ele é gay e vive um momento de tensão com relação
a sua nova identidade. Uma tensão latente existe entre Claire e Virginia. Ela
inicialmente se afasta da nova amiga, mas afirma para David que sente falta de
Virginia. David não apenas volta a se travestir e leva Claire para um encontro
sexual que não se sucede de todo. Ainda processando o ocorrido, Virginia é
atropelada por um carro e entra em coma. Apenas Claire possui motivos que
despertam o retorno à vida de Virginia.
O filme se torna profundamente prejudicado pela
ausência de uma elaboração mais densa sobre suas personagens, tornando-se, em
grande parte, vítima somente de seus golpes de efeito que tampouco funcionam,
pois em sua maior parte demasiado previsíveis, como é o caso da aproximação
entre Claire e Virginia, que certamente reencontra na nova amiga um passaporte
para superar e ao mesmo tempo se defrontar com o desejo pela amiga morta. Para
complicar ainda mais, embora os atores não sejam ruins, sua postura diante do
que vivenciam soa demasiado anêmica para empolgar. Se chocar o burguês se
tornou uma estratégia mais difícil, Ozon pretende ao menos diverti-lo. E nem isso
consegue. Suas tiradas relacionadas ao transformismo de David/Virginia são
previsíveis ou simplesmente não engraçadas, como a situação em que a sogra de
David o visita em casa e esse, com Claire a lhe orienta-lo, esquece de tirar o
batom, situação que reúne as duas características citadas. Ou ainda a
cena-chave em que Virginia sai, como que encanto, do coma. Se muitas das
situações talvez até rendessem mais nas mãos de alguém mais talentoso como
Almodóvar (apesar de outra adaptação de Rendell tampouco se encontrar entre as
melhores obras do cineasta, Carne
Trêmula) ou Chabrol (Mulheres Diabólicas), com Ozon suscitam algo já visto. A determinado momento o filme
parece querer engatar uma saída abertamente cômica a la Tootsie. Noutras parece fazer um ajuste de contas entre
David/Virginia consigo próprio em chave sério dramática e mesmo quase grave. E
novamente se sente que tal variação também se deu, via de regra, de melhor
forma nas mãos de cineastas como Almodóvar ou Fassbinder. Mandarin
Films/FOZ/Mars Films/France 2 Cinéma. 108 minutos.
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