Filme do Dia: Desmundo (2002), Alain Fresnot
Desmundo (Brasil, 2002).
Direção: Alain Fresnot. Rot. Adaptado: Sabina Anzuategui, Alain Fresnot &
Anna Muylaert. Fotografia: Pedro Farkas. Música: John Neschling. Montagem:
Junior Carone & Alain Fresnot. Dir. de arte: Francisco de Andrade &
Adrian Cooper. Com: Simone Spoladore, Osmar Prado, Caco Ciocler, Berta Zemel,
Beatriz Segall, José Eduardo, Cacá Rosset, Arrigo Barnabé.
Um grupo de orfãs portuguesas chega a um Brasil
colonial escasso em mulheres. Todas são levadas à comunidade, para que os
homens as escolham. Oribela (Spoladore), que apenas sonha em retornar ao
convento e abandonar o presente e o Novo Mundo, para ela extremamente
degradante, torna-se a escolhida do rude bandeirante Francisco (Prado), que
divide a pobre residência com a mãe e alguns índios. Após tentar fugir uma
primeira vez, Oribela passa a ser vítima das sevícias do marido, que a mantém acorrentada. Quando as relações com
Francisco se encontram melhores, após uma segunda tentativa de fuga em que por
pouco não se torna vítima de estupro, Oribela passa, pela primeira vez, a
demonstrar um certo carinho e respeito por ele. Porém rouba roupas e moedas de
ouro do marido para oferecer ao judeu Ximeno (Ciocler), como pagamento para sua fuga
e torna-se amante do mesmo. Na madrugada em que Ximeno vai leva-la a
embarcação, o casal é perseguido por Francisco, que mata Ximeno e retorna com a
mulher para casa. Logo, Oribela dará luz a uma criança.
Com uma produção
impecável, o filme consegue dar conta de suas expectativas enquanto narrativa
histórica. Para tanto, faz uso de uma boa reconstituição da época, fotografia e
direção de atores e ainda consegue o raro intento de reproduzir com razoável
acuidade o imaginário da época, sem cair na tentação dos juízos morais
apressados e descontextualizados tão comuns, seja com relação à condição da
mulher ou a uma visão apologética do país. No que diz respeito a primeira não
transforma seu marido em um mero vilão e quanto ao segundo a domesticação
forçada da protagonista serve igualmente como metáfora para boa parte dos
portugueses que aqui vivenciaram uma experiência mais próxima do inferno que do
paraíso, tão distante era de seus valores natais e de suas condições de vida
anteriores. O filme se ressente, contudo, de uma maior ousadia autoral, ficando
limitado a uma narração eficiente porém
quase burocrática e destituída do germe de inquietação e paixão que norteia as
verdadeiras obras artísticas. A.F Cinema e Vídeo. 100 minutos.
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