Filme do Dia: Pearls of the Deep (1965), Vera Chytilová, Jaromil Jires, Jiri Menzel, Jan Nemec & Evald Schorm
Pearls of the Deep (Perlicky
na Dne, Tchecoslováquia, 1966). Direção: Vera Chytilová (Automat Svet), Jaromil Jires (Romance), Jirí Menzel (Smrt pana Baltazara), Jan Nemec (Podvodníci) & Evald Schorm (Dum Radosti). Rot. adaptado: Vera
Chytilová, Jaromil Jires, Jirí Menzel, Jan Nemec & Evald Schorm, baseado em
contos de Bohumil Hrabal. Fotografia: Jaroslav Kucera. Música: Jan Klusák &
Jirí Sust. Montagem: Miroslav Hájek & Jirina Lukesová. Com: Vladimir
Boudník, Frantisek Havel, Ales Kosnar, Ivan Vyskocil.
Smrt pana Baltazara. Um casal se
dirige em seu automóvel antigo para um autódromo aonde ocorrerá uma importante
corrida de motos. Podvodníci. Dois
artistas talentosos no passado se confrontam no final da vida. Um deles é
escritor. O outro se dizia um dos grandes talentos da opereta tcheca, ainda que
os funcionários do hospital somente tenham encontrado registro de sua
participação no coro. Dum Radosti. Um
pintor que utiliza as paredes de sua casa para expressar sua arte, que brota
espontaneamente dos sonhos, recebe a visita de dois oficiais do governo. Automat Svet. Em um bar onde uma garota se suicidou se
celebra um animado casamento. Devido ao noivo ter sido considerado suspeito e
levado para a delegacia, a noiva decide levar a noite de núpcias com um
policial. Romance. Um jovem se
enamora de uma garota cigana e vivem um juntos noite de amor e de expectativas
para o futuro. No dia seguinte, ele a vai deixar no acampamento onde mora sua
família.
Há uma evidente dívida para com a Nouvelle Vague, algo que fica patente já
a partir do primeiro episódio, com travellings do sol escondido semi-oculto por
entre árvores de copas elevadas, seqüência um tanto quanto evocativa de Acossado. Some-se a isso uma estética
pseudo-documental, soberbamente registrada pela belíssima fotografia em p&b
e uma certa ênfase no absurdo. E tal influência permanece visível ao longo do
filme. Talvez ela se encontre menos presente no curta assinado por Nemec,
notável pela utilização original dos primeiros planos da dupla protagonista.
Sua ironia final, tipicamente anti-oficial, contrapõe a fala de um médico
afirmando que tudo irá ocorrer bem com o novo paciente internado enquanto logo
depois acompanhamos o traslado com o caixão do cantor de óperas – a frieza com
que se descreve o evento e seu tom, ao menos ao final, anti-estabelishment, sugerem uma comparação com o posterior Titicut Follies (1968), documentário de Frederick Wiseman. Tanto no
caso do realizador norte-americano quanto de Nemec, trata-se de ressaltar o
quanto o elemento humano fica esmaecido quando passa a ser tido quase de uma
mera estatística a quem se deve tratar. Destaque para a boa dupla de atores,
talvez a mais afinada de todo o elenco do filme. O curta seguinte, o único
colorido e com uma estética mais próxima das realizações futuras de Chytilová,
possui ainda um tom de desforra com a autoridade estatal mais explícita,
parecendo ser um comentário sobre as relações entre essa e o sempre premente
desejo de liberdade do mundo artístico. Em Automat
Svet, Chytilová tocará em outra dimensão trazida pela Nouvelle Vague, a da maior liberdade com relação à abordagem da
sexualidade, sobretudo no caso aqui uma vanguardista posição em relação ao
desejo feminino, expresso em termos estéticos em suas bela utilização de
trucagens com uso de stop motion. Tal
abordagem mais próxima da intimidade e da sexualidade será mais presente de todas
no último curta, Romance, talvez
igualmente o mais bem sucedido em sua por vezes pungente expressão da
sensibilidade do universo de seus personagens sem precisar apelar para motivos
mais abertamente marcados na elaboração visual ou de apelo pretensamente
bizarro ou surrealista como boa parte dos outros. O modelo de curtas agrupados
em longa-metragem, era uma das coqueluches do momento na indústria
cinematográfica, sobretudo européia e de cunho autoral. Ceskoslovenský Stání
Film.105 minutos.
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