Título do Filme: Enforcamento (1968), Nagisa Oshima
Enforcamento (Koshikei,
Japão, 1968). Direção: Nagisa Oshima. Rot. Original: Michinori Fukao, Nagisa
Oshima, Mamoru Sasaki & Tsutomu Tamura. Fotografia: Yasuhiro Yashioka.
Música: Hikaru Hayashi. Montagem: Keiichi Uraoka. Dir. de arte: Jusho Toda.
Com: Do Yun-yu, Kei Sato, Fumio Watanabe, Toshirô Ishido, Masao Adashi, Rokko
Toura, Hosei Komatsu, Masao Matsuda, Akiko Koyama.
Condenado à morte, um jovem coreano
(Yun-yu) de 22 anos, sobrevive à execução. O que será feito de seu destino é o
que ficam se perguntando as mais diversas autoridades jurídicas, eclesiásticas
e prisionais.
Esse filme-ensaio, produzido no auge
da verve liberal-progressista e formalmente não naturalista de Oshima, apesar
de mais que ocasionalmente arrastado e aborrecido, consegue colher muitos dos
louros que planta ao final. O que há de pior nele, que já inicia com cartelas
que questionam sobre a pena de morte, é o tom meio colegial com o qual pretende
analisar, de modo pretensioso, diversas facetas morais da sociedade sobre o tema. Principalmente na caracterização/caricaturização efetivada logo
ao início, que tampouco cumpre com suas pretensões cômicas. O que há de melhor
é o seu aberto anti-naturalismo, que consegue excelentes momentos, como o que o
protagonista se encontra deitado ao lado de sua irmã, e finalmente confessa
todos os seus crimes, enquanto todos aqueles que há horas buscavam a confissão
dele, encontram-se por demais embriagados (literalmente) com suas próprias
torpezas. Calcado em uma estrutura evocativa de uma peça teatral, tantos por suas interpretações como por
acomodar a maior parte da ação na casa onde se sucedem a efetivação das penas
capitais, o filme desconstrói a expectativa gerada por seu prólogo aéreo
documental que apresenta do alto a referida casa, passando depois a se deter
detalhadamente na descrição (com narração off
do próprio Oshima) objetiva de seus aposentos. Tudo isso somente dura até o
momento em que o mecanismo de execução falha. A partir daí o que havia de
documental-realista é substituído por um tom farsesco-alegórico que o acompanha
até o final. Há na construção desse caráter de farsa uma evidente dimensão
absurda de viés kafkiano, sendo o nome do personagem R. É através da relação
de R. com a memória aparentemente perdida na mal sucedida primeira execução que
a narrativa progride, senso que é destacado pelas próprias cartelas que são
inseridas como pontuação. É mais do que evidente que Oshima toca aqui não
apenas em questões abstratas e universais que dizem respeito ao próprio
tema-chave como igualmente em não menos polêmicos motivos endereçados diretamente
ao passado e presente do país, como é o caso da problemática relação com a
Coréia. E tampouco a obsessiva representação da verdadeira corte que circunda o
condenado deixa de ser uma alegoria não apenas dos papéis sociais aos quais o
indivíduo se adéqua como da própria representação artística, ganhando um dos
personagens o verdadeiro foro de “dirigir” uma reconstituição dos eventos, tal
e qual um encenador ou cineasta. Sua obsessão é tão grande que consegue
visualizar as de seu “personagem” e ainda fazer com que outros também
participem do “encantamento”, numa evidente metáfora do próprio mecanismo da
narrativa dramática. Destaque para o afinado elenco, sobretudo o ator que
vivencia o protagonista. E, no plano das idéias, para a sofisticada concepção
de nação como abstração que irrompe subitamente da boca do condenado. Aliás, a
“amnésia” vivida pelo protagonista, faz dele o veículo ideal para que Oshima
questione ironicamente com muitos lugares comuns. Art Theatre
Guild/Sozosha para Art Theatre Guild. 117 minutos.
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