Filme do Dia: Armadilha do Destino (1966), Roman Polanski


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Armadilha do Destino (Cul-de-Sac, Reino Unido, 1966). Direção: Roman Polanski. Rot. Original: Roman Polanski & Gerard Brach. Fotografia: Gilbert Taylor. Música: Krystof Komeda. Montagem: Alastair McIntyre. Dir. de arte: George Lack. Com: Donald Pleasence, Françoise Dorléac, Lionel Stander, Jack MacGowran, Iain Quarrier, Robert Downing, Marie Kean, William Franklyn, Jacqueline Bisset, Trevor Delaney.
            Em Northumberland, Inglaterra, num castelo do século XI, o pouco ortodoxo casal George (Pleasence), escritor e pintor nas horas vagas, e Teresa (Dorléac) vivem praticamente isolados do resto do mundo até a chegada dos foragidos Richard (Stander) e Albie (MacGowran), que se encontra gravemente ferido. Albie morre e é enterrado pelos três. À mercê de Richard, o casal fica aprisionado em sua própria casa. Uma chance de salvação parece acontecer com a chegada inesperada de visitas, porém, após uma série de confusões, elas acabam sendo escorraçadas do castelo pelo próprio George. Richard espera algum sinal de seu líder, Catelbach. Como esse não vem, decide abandonar o castelo e deixar George e Teresa presos. Confuso e amedrontado, George mata Richard. Teresa parte com uma das visitas que retornara, Cecil (Franklyn) e George, desesperado, corre sem rumo.
          Trabalhando com o tema recorrente, em sua obra,  de atmosferas claustrofóbicas ameaçadas pela chegada de um elemento estranho, como em Faca na Água (1962) e A Morte e a Donzela, Polanski realizou, com essa comédia de humor negro, um de seus melhores filmes. Carregado de influências do moderno cinema europeu, assim como da história em quadrinhos, e dos filmes de gênero americanos (Horas de Desespero seria sua versão mais convencional), seu humor anárquico e misógino, compraz-se, de forma às vezes voyeurística, no conflito entre o sofisticado, porém confuso burguês e o rude, porém cheio de vitalidade, marginal. Ao contrário do filme de Wyler, no entanto, sua simpatia é dirigida para o marginal que, no final das contas, torna-se a vítima. O desesperado senso de hedonismo em que vivem os protagonistas contagia, no bom sentido, a atmosfera peculiar desse que é um dos últimos filmes de Dorléac, irmã mais velha de Catherine Deneauve, morta em um acidente de carro no ano seguinte. Ao apresentar personagens que não parecem ter qualquer moralidade ou senso de direção, principalmente no caso de George, que inclusive aceita que a mulher o traia quase explicitamente, Polanski parece fazer um comentário subliminar que o excesso de cultura pode gerar nos indivíduos uma certa esterilidade aberrante, paralisadora, que necessita de um sopro de vida real. Uma das cenas que melhor expressa o espírito do filme é a que Richard, com um hilário sorriso de condescendência paternal, observa o casal dormindo, como se observasse duas crianças perdidas. Brinca ligeiramente com os cacoetes narrativos tradicionais ao fazer com que a trilha sonora seja assobiada por George ou seja o disco favorito de Teresa. Jacqueline Bisset, no seu primeiro filme, aparece em uma ponta.Urso de Ouro no Festival de Berlim. Compton Films/Tekli. 111 minutos.



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