The Film Handbook#112: Josef Von Sternberg

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Josef Von Sternberg
Nascimento: 29/05/1894, Viena, Áustria
Morte: 22/12/1969, Hollywood, Califórnia, EUA
Carreira (como realizador): 1924-1953

Mais conhecido por seus melodramas exóticos e irônicos que realizou com Marlene Dietrich, Jonas Sternberg foi um dos realizadores mais pessoais, ambiciosos e criativos dos primeiros anos dos realizadores do início do cinema. Pouco interessado no naturalismo e fascinado pelo potencial visual do meio, ele revelou repetidamente sua atitude cínica e à parte do mundo, focando sua atenção em relações homem-mulher marcadas pela obsessão sexual, humilhação e traições cruéis e casuais, frequentemente por uma insolente femme fatale.

A infância de Sternberg decorreu tanto na Áustria quanto na Ámerica, onde desenvolveu seu interesse por artes gráficas. Seu encontro inicial foi como um assistente menor de montagem até, tendo atraído atenção por seu trabalho em filmes de treinamento do exército durante a I Guerra Mundial, tornar-se assistente de direção. Em 1924, realizaria sua própria estreia como diretor com The Salvation Hunters. Ocasionalmente um melodrama barato sobre três "desamparados", filmado em locações ao redor dos bancos de lama de San Pedro, o filme foi então aclamado por seu realismo; mesmo então, em retrospecto seu uso do simbolismo (memoravelmente uma draga comprometida nas tentativas infinitamente fúteis de limpar um porto) e o cuidado visual com relação a cena do bordel, que antecipam a obra posterior de Sternberg. De seus filmes mudos posteriores, poucos permaneceram (talvez a perda mais lamentável tenha sido de seu segundo longa, The Seagull, realizado para Chaplin que abafou seu lançamento. Paixão e Sangue/Underworld>1, o primeiro dos muitos filmes que realizou como contratado da Paramuont, é um seminal thriller de gangasters, menos notável por sua ação que por sua quase fetichista elaboração visual tanto de uma decadente festa de vagabundo quanto de uma garota de um gangster repleta de penas. Embora O Último Comando/The Last Command>2 tenha sido sua primeira obra-prima, atipicamente complexo em termos de enredo mas inteiramente pessoal irônicos no desempenho de papéis (um general tzarista e um ator bolchevique  aparentemente condenado que se tornam rivais mortais durante a Revolução de 1917 posteriormente se encontram em Hollywood como realizador e extra, trabalhando na reconstrução fílmica do conflito) e sua atribuição de poder a uma mulher bela e sedutora, que inexoravelmente muda e salva a vida de ambos os homens. Porém, foi somente após o visualmente ornamentado Docas de Nova York/Docks of New York e o afetado e arrastado drama prisional O Homem de Mármore/Thundebolt (primeiro filme falado de Sternberg) que ele iniciou a série de filmes com Dietrich pelo qual é mais lembrado.

Realizado na Alemanha à pedido de Emil Jannings, que interpreta um grave professor idoso transformado e arruinado por seu obsessivo e adúltero amor pela cantora de cabaré coquete, Lola-Lola, O Anjo Azul/The Blue Angel>3 foi o primeiro de sete colaborações mutuamente benéficas com a até então desconhecida atriz. O diretor proveu a concepção básica dos filmes (homens fracos e masoquistas encantados por misteriosas e ambivalentes mulheres tentadoras cujo eventual auto-sacrifício não encobriam  seu escárnio do absurdo representado pelo amor romântico e da paixão). Dietrich proporcionou o carisma indiferente, mas sensual. Todos os filmes foram abrilhantados pelas composições brilhantes e estilizadas de Sternberg que conformaram atmosferas exóticas-eróticas, bastante distantes do universo da realidade mundana, através de um cintilante jogo de luz e sombras sobre fumaça, véus, muros, treliças e cortinas. Marrocos/Morocco foi ambientado em uma luminosamente irreal terra árabe que nunca existiu; Desonrada/Dishonered uma história no estilo de Mata Hari de espionagem se desdobrando em uma sombria Europa Central; O Expresso de Shangai/Shangai Express>4 teve lugar em uma fervilhante China devastada pela guerra; A Vênus Loura/Blonde Venus evocava uma América polarizada pelas sórdidas paisagens da Depressão e apartamentos luxuosos de playboys. Melhor que todos, o simbolismo extravagante de A Imperatriz Vermelha/The Scarlett Empress>5, no qual a ascensão ao poder de Catarina, a Grande é observado em termos de astuciosas estratégias sexuais, permitidas por uma delirante ostentação de espalhafatosos boudoirs, estátuas morbidamente grotescas, incensos e velas de catedral e garanhões brancos relinchando sobre as extensas escadarias do palácio. Por fim, no entanto, a parceria chegou a um fim, e após Mulher Satânica/The Devil is a Woman, ambientado em uma mítica Espanha positivamente repleta de mantilhas, folhas de palmeiras, xales e capas, e com o herói abandonado Lionel Atwill trazendo uma distinta semelhança física com o diretor, Dietrich e Sternberg seguiram caminhos distintos.

Os outros filmes dos anos 30 de Sternberg (versões de Uma Tragédia Americana de Theodore Dreiser e Crime e Castigo de Dostoievski; O Rei Se Diverte/The King Steps Out e Sargento Madden/Seargent Madden) foram, de um modo geral, mais irregulares: uma adaptação do I, Claudius de Robert Graves, realizada para Alexander Korda, contando com inúmeros contratempos de produção, infelizmente nunca seria completada (o pouco que permaneceu pode ser visto no documentário The Epic That Never Was). Tensão em Shangai/The Shangai Gesture>6 foi um melodrama soberbo e cínico no qual um diplomata americano moralista e hipócrita e uma madame proprietária de cassino-bordel, sua ex-amante e um oriental voluptuoso leal a nada além de suas próprias necessidades brigam pela alma da degenerada filha do americano. E foi uma narrativa extravagante, elaborada e descaradamente metafórica de jogos eróticos como ninguém nunca filmou, mas no resto dos anos 40 Sterneberg se viu confundido primeiro pela guerra, depois por Howard Hughes, para quem realizaria o embaraçoso romance de espionagem da Guerra Fria Estradas do Inferno/Jet Pilot e a agradável comédia-thriller Macao (muita da qual foi refilmada por Nicholas Ray). Finalmente, ele foi ao Japão onde sua inclinação para o artifício simbólico ganhou rédeas livres: se A Saga de Anathan/Anathan>7 foi baseado em um fato histórico (marinheiros japoneses, incapazes de acreditar na derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, voltam-se uns para os outros ao descobrirem que compartilham uma ilha remota na qual são abandonadas com uma mulher bela e solteira) Sternberg perversa, mas brilhantemente, traduziu-o  em um estudo estilizado, quase abstrato da insensatez masculina e da ambivalência feminina. Ele o fez criando sua moderna estufa no estúdio (ignorando as nuances exatas dos diálogos de seus atores) revelando o significado dos eventos com um comentário narrado por ele próprio; ele também contribuiu com a fotografia.

Sternberg então abandonou a direção; ainda que afligido por problemas de saúde ele levou os últimos anos de sua vida escrevendo uma autobiografia, ensinando e visitando diversos festivais que, ao organizarem retrospectivas em sua honra, lisonjeavam suas vaidades e estima arrogante de seu próprio valor. Ele foi, apesar de tudo, um grande diretor, cuja abundante sensibilidade visual (frequentemente desacreditada como esteticismo kitsch) serviu como meio tanto de explorar as propriedades formais do cinema e como moldura para sua contínua inquisição em relação à natureza destrutiva mas, talvez em última instância redentora, da paixão humana conhecida como amor.

Cronologia
Tanto o apreço como seu amor pelo detalhe visual sugerem comparações com Von Stroheim, ainda que seu estilo seja bem distinto e talvez seja mais esclarecedor comparar sua obsessão com o amor com os de longe menos cínicos Ophüls e Borzage; de forma semelhante, seu interesse nas propriedades formais do cinema podem vinculá-lo a figuras tão diversas quanto Mamoulian, Minnelli, Powell e Sirk. É discutível que o Lola de Demy e o filme de Fassbinder  de mesmo nome, assim como a obra do belga Harry Kumel, prestam uma homenagem a sua influência. 

Leituras Futuras
The Films of Josef Von Sternberg (Nova York, 1966), de Andrew Sarris, The Cinema of Josef Sternberg (Nova York, 1971), de John Baxter. Fun in a Chinese Laundry (Nova York, 1965), é a autobiografia bastante provocadora de Sternberg.

Destaques
1. Paixão e Sangue, EUA, 1927 c/George Bancroft, Evelyn Brent, Clive Brook

2. O Último Comando, EUA, 1927 c/Emil Jannings, William Powell, Evelyn Brent

3. O Anjo Azul, Alemanha, 1930 c/Marlene Dietrich, Emil Jannings, Kurt Gerron

4.O Expresso de Shangai, EUA, 1932, c/Marlene Dietrich, Clive Brook, Anna May Wong

5. A Imperatriz Vermelha, EUA, 1934 c/Marlene Dietrich, Sam Jaffe, John Lodge

6. Tensão em Shangai, EUA, 1941 c/Gene Tierney, Walter Huston, Ona Munson, Victor Mature

7. A Saga de Anathan, Japão, 1952 c/Akemi Nagishi, Tadashi Suganuma, Kisaburo Sawamura

Texto; Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 298-300.

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