Filme do Dia: Intermezzo (1936), Gustaf Molander
Intermezzo (Intermezzo, Suécia, 1936). Direção: Gustaf Molander. Rot. Original:
Gustaf Molander & Gösta Stevens. Fotografia: Åke Dahlqvist. Música: Heinz
Provost. Montagem: Oscar Rosander. Dir. de arte: Arne Åkermark. Com: Gösta Ekman,
Inga Tidblad, Ingrid
Bergman, Erik 'Bullen' Berglund, Hugo Björne,
Anders Henrikson, Hasse Ekman,
Britt Hagman, Margit Orth.
Anita Hoffman (Bergman), jovem e
promissora pianista, é protegida do veterano professor Thomas Stenborg
(Björne), que a quer manter distante de qualquer outra influência. Porém, ao
mesmo tempo ensina a filha de um virtuose do violino, Holger (Ekman),
Anne-Marie Brandt (Hagman). Com a descoberta da proximidade musical, no
aniversário de Anne-Marie, e com a relação fria que vive com a esposa Margit
(Tidblad), que prefere a vida doméstica e os cuidados com a família às
excursões do marido, aproxima-se de Hoffman e vive um relacionamento amoroso.
Cansados de se encontrarem às escondidas e com a consciência pesada de não
contar nada à esposa, Holger conta a esposa, enquanto Anita rompe com Stenborg,
que, apesar de contrariado com sua decisão, incentiva-lhe a ter coragem. Anita
passa a ser acompanhante de Holger, no piano, e juntos fazem grande sucesso em
excursão pela Europa. Porém, sempre pesa em Holger a culpa de ter deixado a
amada família para trás, sentindo-se sobretudo saudoso da filha, e transferindo
essa relação para outra garota de sua idade, chamada coincidentemente Marie
(Orth). A crise de confiança no futuro do relacionamento de ambos eclode quando
Anita ganha um concurso de piano, e a possibilidade de receber uma bolsa e
seguir uma carreira profissional, quando na companhia de Holger não será mais
que sua acompanhante, parece-lhe tentadora. E se agrava com a chegada do amigo
de Holger, Charles Möller (Berglund), com os papéis do divórcio. Porém, como
afirmara certa vez Holger a Anita, ela agora faz questão de lhe lembrar que
“não se pega um trem e diz adeus a tudo. Sempre fica alguém na plataforma.”
Anita parte às escondidas. Pensando que agora Holger retornará para casa,
Möller fica surpreso quando este decide ficar sozinho, para se punir pelo que
fizera e com vergonha da família, assinando os papéis do divórcio. Porém a
situação muda de figura após a continuação de seu exílio voluntário, e numa
mesa de bar ouve um conselho precioso de um marinheiro sueco (Henrikson), e
retorna. Möller o recebe, e Holger faz questão de deixar para a filha na escola
a câmera fotográfica que ela lhe pedira. Porém quando vê o pai, Anne-Maria
atravessa a rua correndo e é atropelada por um carro. No hospital, Holger terá
que lidar com a expectativa sobre a saúde da filha e, ao mesmo tempo, escutar
as mágoas de seu filho adolescente Åke (Ekman). A filha deixa de correr risco
de vida, e Holger se reconcilia com Margit, enquanto Stenborg aconselha Åke a
ser mais compreensivo com o pai.
O que mais chama
atenção nesse melodrama sueco típico da época e local em que foi produzido é
menos o rotineiro triângulo amoroso e os conflitos e sofrimentos que vivem os
personagens, em que pese além de tudo a interpretação eminentemente teatral e
grave de Ekman, e mais o modo pouco
usual em que movimenta os personagens nas saídas e entradas do quadro, fugindo
do convencional sistema do eixo de ação, onipresente desde a década de 1910.
Embora no início apresente cenas em que impera o plano/contraplano tradicional
e o chamada linha de 180º, logo ficará patente que, na maioria das vezes, a
recusa desse sistema faz com que, como inúmeros outros exemplos, Stenborg, que
se encontra plantando flores e falando com Möller (em plano/contraplano) se
diriga da esquerda para o lado direito do quadro para encontra-se com o amigo,
embora esse surga no plano seguinte, em que ambos aparecem juntos, no lado
esquerdo do quadro. Ou ainda quando a violinista vai de encontro de Anita,
partindo da esquerda para à direita do quadro, e essa surge na esquerda do
quadro, provocando um desnorteamento na noção de espaço, que foi trabalhada
magistralmente no cinema japonês. As mudanças de tempo são marcadas tanto pelas
tradicionais fusões, como pela abertura em íris (recurso comum até então), ou
motivos naturais (nuvens ou como o que apresenta o surgimento da primavera).
Também se tornam relevantes dramaticamente o grande cuidado com a iluminação.
Na cena próxima ao final, em que Holger vai à sala do médico, saber sobre a
saúde da filha, uma elipse propicia o suspense do resultado, e apenas
vislumbramos sua sombra dentro da sala. Não faltam clichês folhetinescos,
embora a personagem de Anita demonstre um nível de emancipação pouco comum nas
heroínas de então, sendo quem na verdade toma a iniciativa do rompimento e a
constante reflexão sobre a validade ou não do relacionamento com Holger. O tom termina
por ser mais parcimonioso que a da maioria dos casos equivalentes de amour fou, em que a verdade do amor
geralmente nunca é questionada. Primeiro filme de Ingrid Bergman, que o refez
três anos após nos EUA. Svenskfilmindustri. 93 minutos.
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