Filme do Dia: Sons Britânicos (1970), Jean-Luc Godard & Jean-Henri Roger
Sons Britânicos (British Sounds, França, 1970). Direção e Rot. Original: Jean-Luc
Godard & Jean-Henri Roger. Fotografia: Charles Stwart. Montagem: Elizabeth
Kozmian.
Ainda que o filme possua todas as
características dos filmes produzidos pelo Grupo Dziga Vertov, manifestos
políticos dirigidos por Godard e outros colaboradores sobre assinatura
coletiva, acabou sendo assinado pelos dois realizadores. E, embora seja ainda
mais ingenuamente político em seu panfletarismo que outros filmes desse momento
de politização radical de Godard (como Vento
do Leste e Um Filme Como os Outros)
e de boa parte do mundo, como na sua adesão ao maoísmo, é bem mais inventivo e
elaborado formalmente que o último. Inicia com uma longa e engenhosa seqüência
numa fábrica de automóveis inglesa, que reproduz ironicamente uma narrativa em off típica do mais clássico cinema
documental para traçar comentários marxistas sobre apropriação do trabalho
operário, trabalho assalariado, etc. Como na sua produção do período, há um uso
expressivo do som que remete ao título, sendo incluídos uma polimorfia
discursiva que vai da descrição de datas históricas representativas para o
movimento operário e seus respectivos acontecimentos repetidos por uma criança
do que escuta de uma voz adulta a um comentário sobre a condição feminina a
partir da nudez despojada e deserotizada de uma mulher. Ou ainda a dublagem do
discurso radicalmente reacionário de um jovem sobre a Guerra do Vietnã, negros
e imigrantes, que bem pode ter sido colado na imagem de algum líder de esquerda
estudantil. Ou ainda uma seqüência na qual estudantes procuram aproximar de
seus interesses ideológicos algumas canções dos Beatles como Hello Goodbye e Revolution. Aliás, essa seqüência pode ser tomada como sintomática
de que toda arte fundamentalmente é dependente para ser ou não bem sucedida de
sua expressividade com relação ao meio ao qual pertence numa dimensão até mais
efetiva que sua coloração ideológica. Ou seja, o trabalho dos estudantes de
intervenção política nos refrões das canções dos Beatles demonstra a
dependência muito maior de um meio expressivo sofisticado para eles difundirem
sua causa maoísta, já que eles próprios não parecem dotados de nenhuma
criatividade o suficiente para fazê-los por si próprios, do que o oposto.
Também faz menção à própria indústria cinematográfica, um tema que Godard
habitualmente consegue ironizar com êxito. Encerra com um constrangedor
panfletarismo de punhos que atravessam a bandeira do Reino Unido, declarando
palavras de ordem radicais, sofrível em relação ao restante do filme. Kestrel Productions/LWT. 52 minutos.
Comentários
Postar um comentário