Filme do Dia: Luciano Serra, Piloto (1938), Goffredo Alessandrini
Luciano
Serra, Piloto (Luciano Serra, Pilota, Itália, 1938). Direção: Goffredo Alessandrini. Rot. Original:
Goffredo Alessandrini & Roberto Rossellini, baseado em argumento de
Alessandrini & Francesco Masoero. Fotografia: Ubaldo Arata. Música: Giulio
Cesare Sonzogno. Montagem: Giorgio Simonelli. Dir. de arte: Gastone Medin. Com:
Amedeo Nazzari, Roberto Villa, Germana Paolieri, Mario Ferrari, Gugliemo Sinaz,
Egisto Olivieri, Andrea Cecchi, Gino Mori.
Luciano Serra (Nazzari),piloto condecorado da I Guerra Mundial,
abandona sua família, rejeitando o convite para ingressar no mundo dos negócios
oferecido por seu rico sogro (Olivieri) e parte para viver na América. Seu
filho, Aldo (Villa), ingressa na força aérea. Serra aceita o desafio de um voo do Rio para Roma, mas voa para a Etiópia, onde se engaja nas tropas italianas.
Ele descobre em meio a batalha que seu filho se encontra gravemente ferido
dentro de um avião e o pilota de retorno à Itália, em busca de reforços para o
combate. Ferido por um guerrilheiro etíope, Serra não resiste aos ferimentos. Seu
filho será condecorado com honras militares, em tributo não somente a si, como
a seu pai.
Trata-se de um dos filmes que faz uma das apologias mais diretas aos
valores caros ao fascismo dentre o numeroso ciclo de filmes de guerra
produzidos sobretudo após o conflito na Etiópia de meados da década. Aqui há
uma curiosa confluência entre o mito do herói individual, representado
obviamente por Luciano Serra, e seu engajamento anônimo, inclusive com nome
falso, no Exército, que representa o despojamento dos valores individualistas
liberais tão prezado pelo fascismo. Porém, essa tentativa de aproximação dos
valores fascistas, ao menos em termos dramático-narrativos está longe de
conseguir excluir, de fato, a lógica melodramática centrada em questões de
família (aqui, a relação pai-filho) que acaba ganhando muito maior destaque que
a moldura mais ampla do conflito, em oposição a trilogia que Rossellini, aqui
em sua primeira colaboração como co-roteirista, dirigiria nos idos da década
seguinte. A menção explícita ao conflito africano e a ponte com a I Guerra
Mundial, representado pelo herói são grandemente nacionalistas, assim como a
imagem de um Aldo, espécie de Rambo avant
la scéne, matando etíopes de dentro do cockpit de seu avião, mesmo
gravemente ferido. No momento de sua condecoração, ele consegue se mostrar
ainda mais impoluto do que o oficial que lhe condecora e que se encontra
grandemente emocionado, observando as diretrizes do governo fascista por uma
virilidade que excluísse laivos de sentimentalidade envolvendo os mortos ou as
dolorosas separações familiares por conta do conflito. O episódio da fuga do
protagonista ferido seria reaproveitado e feito menção no título de Un Pilota Ritorna (1941), de
Rossellini. O filme, ao contrário de boa parte do ciclo de filmes de guerra
conterrâneos do período, também investe
na mais convencional saída da morte como fator de heroicização ímpar para seu
protagonista, mais comum nas produções alemãs. Para completar o seu caráter de
propaganda irrestrita ao regime, além do filho do Duce ter supervisionado sua
direção, afirma-se que discursos do próprio ditador constavam da versão
original, tendo sido excluídos após o final da Segunda Guerra. Dividiu o prêmio máximo do Festival de Veneza
com ninguém menos que Olympia, de
Leni Riefensthal. Aquila Cinematografica para Generalcine. 102 minutos.
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