Filme do Dia: Abílio Matou Pascoal (1977), Pola Ribeiro
Abílio Matou Pascoal (Brasil, 1977).
Direção: Pola Ribeiro.
Esse interessante e original
curta-metragem, inicia com imagens de mulheres grávidas andando pelas ruas e um
carro de propaganda política que amplifica uma música sobre a infância sem pais
e indaga “de quem é esta criança?”. Depois cede um longo espaço de seu áudio
para o discurso grandemente reacionário, de um advogado que proclama
enfaticamente que o maior problema do país não é o social, mas sim o de um
materialismo sem qualquer moralidade que substituiu Deus pelo sexo. Ribeiro
consegue grande efeito com sua ruptura entre a voz off do advogado e imagens que habitualmente vão contra a sua fala,
apresentando pessoas pobres construindo suas moradias ou crianças deambulando
pelas ruas. Depois do discurso do advogado, o filme insere uma música de
evocação infantil e doce, como se um contraponto a própria fala anterior e uma
aproximação com a própria visão do cineasta, apresentando rostos em close de
crianças que andam pelas ruas. Anteriormente o filme já apresentara uma citação
de um ministro brasileiro que falava que o índice de mortalidade infantil no
Estado de São Paulo daria para cobrir o caminho da cidade até São Vicente, com
o intervalo de um metro, com cada criança morta. Assim, sempre partindo da
contraposição de materiais e sem fazê-lo de maneira tão explicitamente como
habitualmente é feito (caso, por exemplo, dos documentários de Sylvio Back ou
Arthur Omar), o filme tão pouco cede a uma empatia irônica com o que é
apresentado de uma maneira tão simples. Numa de suas últimas cenas, por
exemplo, ele apresenta uma inserção dramatizada sobre as habituais cenas
documentais em que se realiza o assassinato a que o título se refere e tal
assassinato parece espelhar o clichê de que todos os menores de rua um dia se
transformarão em contraventores da ordem. Produzido em super-8. 12 minutos e 30
segundos.
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