Filme do Dia: Cidadão Kane (1941), Orson Welles


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Cidadão Kane (Citizen Kane, EUA, 1941). Direção: Orson Welles. Rot. Original: Orson Welles & Herman J. Mankiewicz. Fotografia: Gregg Toland. Música: Bernard Hermann. Montagem: Robert Wise. Dir. de arte: Van Nest Polglase. Cenografia: Darell Silvera. Figurinos: Edward Stevenson. Com: Orson Welles, Joseph Cotten, Doroth Comingore, Agnes Moorehead, Ruth Warrick, Ray Collins, Everett Sloane, Erskine Sanford, William Alland, Buddy Swan, Harry Shannon, Fortunio Bonanova.
Após a morte do milionário Charles Foster Kane (Welles), magnata da imprensa americana, o repórter Jerry Thompson (Alland) tem como missão investigar a fundo a vida de Kane, para descobrir a origem de “rosebud”, a última palavra que pronunciou em vida. Separado dos pais (Moorehead e Shannon) ainda criança (Swan), Kane passa a viver sob  tutoria, porém quando se torna adulto seu interesse, dentre as dezenas de negócios aparentemente mais lucrativos, é pelo pequeno jornal Inquirer, que se torna ponta de lança para um verdadeiro império na imprensa, com a ajuda de Bernstein (Sloane) e do amigo Jedediah Leland (Cotten), assim como plataforma para sua carreira política. Suas ambições políticas, no entanto, não se concretizam, pois seu rival, James Gettys (Collins) o chantageia a respeito do seu envolvimento com a cantora Susan Alexander (Comingore), enquanto ainda se encontrava casado com Emily Monroe (Warrick), sobrinha do presidente americano. Kane se casa com Alexander, mas nem a carreira dela como cantora de ópera nem seu casamento decolam. Sua amizade com Leland, há muitos anos estremecida, chega ao fim quando esse resolve escrever uma crítica contundente contra Alexander, e Kane o demite. Cada vez mais recluso na sua gigantesca propriedade de Xanadu, na Flórida, Kane sofre ainda o baque de ser abandonado por Susan Alexander.
Presença recorrente na lista de melhores filmes de todos os tempos, a estréia de Welles no cinema é um surpreendente sopro de modernidade em que virtuosismo e ousadia técnica se unem a uma narrativa fragmentada que aos poucos procura formar o quebra-cabeça que dará sentido a uma vida com um nível de densidade inédito até então em Hollywood. Realizado com liberdades  pouco comuns no meio e com orçamento relativamente modesto por um estúdio menor, essa obra-prima barroca em sua vertiginosidade conjuga a técnica de profundidade de foco e  tetos baixos desenvolvida por Gregg Toland para os filmes de Ford, associada a fluidez da câmera e o uso de diversas lentes, o excelente trabalho do elenco oriundo do seu Mercury Theater e com pouca ou nenhuma experiência diante das câmeras e uma inventiva cenografia e um convincente trabalho de maquiagem para construir um painel cuja chave de compreensão fica restrita ao espectador  – Rosebud é o nome do trenó que Kane brincava quando foi separado dos pais, sensação de perda edipiana que somente recrudesce quando é abandonado por sua segunda esposa. Ainda que praticamente todo o filme pudesse ter trechos incluídos em alguma antologia do cinema, destaques para a admirável composição de cena do discurso de Kane, para a tentativa de suicídio de Alexander (referida por Bazin, ainda que equivocadamente, em célebre ensaio), para o modo que a câmera se aproxima da boate em que Susan Alexander se apresenta e, para o mais barroco de todos os planos do filme, em que uma cacatua voa em primero plano, enquanto Susan Alexander abandona Kane em segundo plano e ao fundo se descortina o mar. Sua dimensão de colagem, que não exclui um admirável “falso cinejornal” em que se “envelheceu” pioneiramente algumas imagens para darem a impressão de serem antigas certamente foi e continua sendo referência para gerações de realizadores tão diversos quanto Godard (O Demônio das Onze Horas), Sganzerla (O Bandido da Luz Vermelha), Woody Allen (Zelig) ou Todd Haynes (Velvet Goldmine). Ainda que Kane seja um personagem que cruza referências diversas, sua proximidade maior ao perfil do magnata da imprensa americana William Randolph Hearst, fez com que o filme fosse boicotado por boa parte da mesma. National Film Registry em 1989. Mercury Prod./RKO Radio Pictures para RKO Radio Pictures. 119 minutos.


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