Filme do Dia: India:Matri Bhumi (1959), Roberto Rossellini
India: Matri Bhumi (Itália/França, 1959). Direção: Roberto
Rossellini. Rot. Original: Fereydoun Hoveyda, Roberto Rossellini & Sonali
Senroy DasGupta, a partir de argumento de Rossellini. Fotografia: Aldo Tonti.
Música: Philippe Arthuys. Montagem: Cesare Cavagna.
Documentário e drama encenado se confundem nessa aproximação
da Índia, onde através de uma moldura mais ampla, observa-se algumas narrativas
envolvendo histórias “menores” no interior do país, “mais autêntico” como
afirma a voz over, provavelmente do próprio realizador. Acompanha-se tanto o
cotidiano de trabalho de um grupo de elefantes e seus guias, passando por um
jovem casal, cujo homem trabalhou em uma monumental represa e um velho homem
que morre no meio da travessia inóspita para um popular festival religioso,
chegando a esse somente seu macaco de estimação e, por fim, um velho senhor que, não mais podendo
trabalhar, orienta as ações dos filhos em sua moradia em meio a floresta. Seu
temor, de que uma tigresa ferida pelos porcos-espinhos que matou um homem sofra o revide e seja morta por esses, faz com que faça uma fogueira que busca
afugentá-la da região. Há um teor de convivência tolerante com as diferenças,
sendo esse exemplo apenas um dentre vários. A disparidade das histórias
narradas envolve tanto as que se apresentam com maior imperativo documental
(como a dinâmica dos elefantes e seus guias) e centradas quase que meio a meio
no destaque entre humanos e animais até o restante, onde a dinâmica das
relações humanas prevalece e também o episódio curioso em que o animal é
protagonista (o macaco que, ameaçado por seus similares selvagens, é adotado e passa
a fazer parte de um número amestrado). Talvez a sequencia mais comovente do
filme seja a que apresente o macaco acuado por uma multidão de aves de rapina
que sobrevoam a área onde ele e seu dono, agora morto, encontram-se, esperando
o momento de se aproveitarem da carne apodrecida. Com um tema que
potencialmente serve como uma luva para sua visão panteísta de mundo, Rossellini
efetiva uma realização distante de tudo que havia produzido anterior e
posteriormente. Vai nesse sentido o narrador que, após observar a cremação de
um morto, afirmar que quando o homem morre sua vida não se extingue, será
reencarnada, mas como ninguém sabe em quem, isso propicia a compreensão de que
todos os homens são irmãos (se tivesse estendido tal relação a todos os seres
viventes ou ao menos a todos os animais, talvez cumprisse ainda mais de perto
com o espírito do filme, que não chega a tocar nas disparidades e conflitos
étnicos do país e observa de forma algo naturalizada o tratamento truculento do
marido para com sua esposa). Mesmo com toda sua atenção voltada para narrativas
situadas nas províncias da Índia, é curioso que o filme inicie e finalize com
imagens de Bombaim, num movimento que pretende simular o do contato primeiro de
alguém que vem de fora, sua jornada pelo gigantesco território e seu retorno e
partida, algo ainda mais patente quando a narração reforça se tratar a cidade a
porta de entrada do país. Comparações com outras produções de grandes
realizadores em culturas distintas das suas, e também efetivando uma mescla
entre teor documental e dramatizado tais como Tabu, de Murnau e Flaherty, Que
Viva Mexico, de Eisenstein ou It’s
All True, de Welles são algo inevitáveis. Um dos filmes menos conhecidos do
realizador, aqui se trata de versão restaurada em 2011. Aniene Film/UGC. 90
minutos.
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