The Film Handbook#89: Joseph L. Mankiewicz
Joseph L.Mankiewicz
Nascimento: 11/02/1909, Wilkesbarre, Pensilvânia, EUA
Morte: 05/02/1993, Bedford, Nova York, EUA
Carreira: 1946-1972
As falas incessantes que ecoam em muitos dos filmes de Joseph Leo Mankiewicz levaram a que se acusasse sua obra de mais teatral que propriamente cinematográfica. No seu auge, no entanto, ele conseguiu conceber suas narrativas e diálogos distintamente literários em visuais apropriadamente elegantes, produzindo entretenimento de raro refinamento.
O irmão mais jovem de Herman J.Mankiewicz (mais conhecido por seu roteiro de Cidadão Kane), Joe Mankiewicz chegou ao universo do cinema após trabalhar como jornalista em Berlim. Inicialmente roteirista para a Paramount e a MGM, em 1935 se voltou à produção; Fúria/Fury de Lang, Três Camaradas/Three Comrades e Almas Rebeldes/Strange Cargo de Borzage e Núpcias de Escândalo de Cukor foram os melhores filmes que supervisionou Finalmente, em 1946, lhe foi permitido dirigir: sua estreia, O Solar de Dragonwyck/Dragonwyck>1 foi um inteligente e requintadamente montado melodrama gótico, O Fantasma Apaixonado/The Ghost and Mrs.Muir (o melhor de seus admitidamente despretensiosos filmes iniciais) um romance de atmosfera sobrenatural bastante pungente, no qual a vida de uma viúva é estranhamente transformada pelo fantasma de um capitão do mar que pode, de fato, ser sua consciência. Em 1948, Quem é o Infiel?/A Letter to Three Wives>2 apresentou o estilo maduro de Mankiewicz com a epístola homônima, enviada algo maliciosamente por uma narradora feminina que não é observada, servindo para apontar, em tons deliciosamente irônicos, a presunçosa complacência da vida conjugal numa América country club contemporânea. Sangue do Meu Sangue/House of Strangers um drama em estilo noir impressionantemente planejado sobre uma família de bancários dominada por um ardiloso patriarca foi pouco comum ao destacar suas qualidades visuais, mas A Malvada/All About Eve>3 foi triunfantemente literário em seu tom. Sua densa narrativa múltipla e engenhosidade caústica foram uma moldura estilística perfeita para sua cínica história de ambição descontrolada e maliciosa pretensão no universo do teatro; revelando em artifícios, através de seu desfile de enérgicas epígrafes, o filme não somente referencia mas apresenta de cheio, os júbilos de se interpretar. Igualmente verborrágico e quase tão impressionante foi a comédia romântica Dizem Que é Pecado/People Will Talk, o sutil thriller de espionagem 5 Dedos/Five Fingers, o sensível e original elenco de Júlio César/Julius Caesar (com Marlon Brando como Marco Antônio) e A Condessa Descalça/The Barefoot Contess>4. Esse último, um melodrama extravagante sobre a problemática vida amorosa de uma cigana que se torna estrela de cinema se destacou pela engenhosidade bem articulada do diretor-roteirista e sua fascinação pela interpretação de papéis na própria vida, flashbacks e estrutura.
Um musical que se delicia com o design espalhafatosamente estilizado dos anos 50, Eles e Elas/Guys and Dolls>5 revelou tanto a versatilidade de Mankiewicz quanto seu fascínio duradouro por uma linguagem fortemente não naturalista, aqui derivada de Damon Runyon; enquanto O Americano Tranquilo/The Quiet American, adaptado de um conto de Graham Greene sobre expatriados numa Saigon devastada pela guerra, abandonou o viés anti-americano do livro, mesmo criando um retrato soberbamente sombrio e melancólico de traição e covardia através de interpretações afiadas e evocativo trabalho de câmera em locação. Desde então, no entanto, os filmes de Mankiewicz se tornaram crescentemente irregulares. De Repente, No Último Verão/Suddenly Last Summer foi excessiva e tediosamente dependente das palavras; Cleópatra/Cleopatra um empolado épico prejudicado por problemas de produção; Charada em Veneza/The Honey Pot um intrigante, mas somente espasmodicamente cômico, thriller baseado em Volpone de Ben Jonson. De fato, em seus dois últimos filmes, o diretor não trabalhou com roteiros seus mas da dupla Robert Benton e David Newman (o western Ninho de Cobras/There Was a Crooked Man...) e Anthony Shaffer (o teatral Sleuth realizado para dois atores que, mais uma vez, permite a Mankiewicz explorar seu interesse pela complexidade das representações e interpretações).
Embora a obra errática posterior de Mankiewicz possa dar vazão a ideia de se tratar de um talento cinematográfico menor, mais preocupado com o estilo verbal que visual, sua articulação e ironia tem sido sempre notáveis em sua raridade na Hollywood das produções de grande apelo de público. Portanto, talvez ao se evadir da realidade cotidiana, seus melhores filmes mereçam o aplauso por sua precisão formal, inteligente e sardônico humor e sofisticação adulta.
Cronologia
O eloquente e elevado senso cômico de Mankiewicz suscita comparações com o de figuras tão diversas quanto Cukor, Mamoulian e Lewin; dentre os diretores modernos, Benton, Levinson, mesmo Rohmer, Greenaway e Woody Allen podem ser apreciados como compartilhando seu amor pela palavra falada.
Leituras Futuras
More About All About Eve (Nova York, 1972), de Gary Carey é uma entrevista; Pictures Will Talk (Nova York, 1978), de Kenneth Greist, uma biografia.
Destaques
1. O Solar de Dragonwyck, EUA, 1947, c/Gene Tierney, Rex Harrison, George Sanders
2. Quem é o Infiel?, EUA, 1948 c/Jeanne Crain, Linda Darnell, Ann Sothern, Kirk Douglas
3. A Malvada, EUA, 1950 c/Bette Davis, Anne Baxter, George Sanders, Gary Merrill
4. A Condessa Descalça, EUA, 1954 c/ Humphrey Bogart, Ava Gardner, Edmond O'Brien
5. Eles e Elas, EUA, 1955 c/Marlon Brando, Frank Sinatra, Jean Simmons
Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, 1989, pp. 189-90.
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