Filme do Dia: La Cifra Impar (1962), Manuel Antin
La Cifra Impar (Argentina, 1962). Direção: Manuel Antin. Rot. Adaptado: Manuel Antin & Antonio Ripoli, baseado no conto Cartas de Mamá, de Júlio Cortazar. Fotografia: Ignacio Souto. Música: Virtú Maragno. Montagem: Antonio Ripoli. Dir. de arte: Ponchi Morpurgo & Federico Padilla. Com: Lautaro Murúa, María Rosa Gallo, Sergio Renán, Milagros de la Vega, Maurice Jouvet, José María Fra.
Triângulo amoroso
entre os irmãos, Luis (Murúa), Nico (Renán) e Laura (Gallo), acaba provocando a
morte do elo mais frágil da corrente, Nico. Mudando-se de Buenos Aires para
Paris, Luis e Laura não conseguem, no entanto, exorcizar o fantasma de Nico, que
volta a ser evocado nas cartas da mãe senil (Vega).
Antin consegue um
resultado bem interessante, entre os arroubos do melodrama e a frieza
distanciada do cinema moderno, sobretudo francês, que lhe deve ter igualmente
inspirado, o que traduz, de certa maneira, à época em que o filme foi
produzido. Os diálogos por vezes se tornam por demais literários, assim como as
interpretações – principalmente de Gallo – demasiado teatrais, porém essa
estrutura dramática visivelmente herdeira de uma forte presença de elementos teatrais
e literários se torna passível de apropriação pela própria narrativa, que
exige um senso de claustrofobia e ausência de horizonte que reproduz no espaço
físico o emaranhado psíquico dos personagens. A cenografia, principalmente no
que se refere a casa da família dos irmãos, talvez seja representada de forma
excessivamente gótica e sombria, na linha de Rebecca (1940), de Hitchcock, porém serve para contrapor o universo
da mãe e um sentido de família tradicional em oposição ao aspecto clean do casal moderno que vive em
Paris. Renán está bem como o tímido e cruel Nico, que tem plena consciência do
que provocará com sua morte iminente, aproximando-se ligeiramente do Norman
Bates de Psicose, porém sem ser tão
excessivo quanto Perkins e o mesmo se dá com Murúa que vive um Luis de extrema
conteção emocional. O próprio filme reproduz essa contenção, com a balança
pendendo portanto para as apropriações do cinema moderno que o cineasta faz
uso, como a trilha sonora, que apenas surge em determinados intervalos e que,
se inicialmente aparente ser aliada do melodrama clássico, finda por soar igualmente estranha e inquietante, com seus acordes pouco melodiosos. Ou ainda a constante
mistura entre presente e passado, que na maior parte das vezes ocorre sem a
menor sinalização. Filme de estréia de Antin, também romancista, e o primeiro
de uma trilogia de adaptações da obra de Cortazar, que inclui ainda Circe (1964) e Intimidad de los Parques (1965). Trata-se também da primeira de
mais de uma dezena de adaptações cinematográficas da obra de Cortázar para o
cinema. Harding-Shon. 85 minutos.
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