Filme do Dia: Abraços Partidos (2009), Pedro Almodóvar
Abraços Partidos (Los Abrazos Rotos, Espanha, 2009). Direção e Rot. Original: Pedro
Almodóvar. Fotografia: Rodrigo Prieto. Música: Alberto Iglesias. Montagem: José
Salcedo. Dir. de arte: Antxón Gomez & Victor Molero. Figurinos: Sonia
Grande. Com: Penélope Cruz, Lluis Homar, Blanca Portillo, José Luiz Gomez,
Rubén Ochandiano, Tamar Novas, Ángela Molina, Chus Lampreave.
Vivendo como
roteirista e escritor cego Harry Craine
(Homar), após abandonar seu nome real e sua profissão de cineasta, desde um
acidente de automóvel 14 anos antes, quando não apenas perdeu a visão mas
também sua amante Lena (Cruz), necessita acertar suas contas com o passado,
após a insistência do filho do marido de sua amante, Ray X (Ochandiano), que
documentou todos os bastidores da filmagem,
inclusive a relação extra-conjugal, que foram assistidas pelo marido de
Lena, o poderoso empresário Ernesto Martel (Gómez). Quem também chega e faz um
ajuste de contas com o passado é sua
ex-esposa, Judith (Portillo).
Há um crescente
virtuosismo em termos de imagens e de elaboração narrativa, aqui visivelmente
inspirada no cinema noir, em sua
labiríntica teia de flashbacks. Ao
contrário de seus primeiros filmes, onde o escracho, e o anti-naturalismo
absurdo das situações e interpretações provocavam certo efeito de distanciamento com o que é narrado,
aqui se existe tal distanciamento ele se dá menos pela interpretação dos atores
ou pela magnífica qualidade visual do filme, com destaque para a fotografia de
Prieto, do que pela própria virtuosidade de sua narrativa. Ao preço, no
entanto, de tornar secundário de fato o interesse pelos próprios personagens.
Da forma que o filme se estrutura, todo o interesse recai de fato
sobre a trama, tornando os personagens menos realizadores ativos do que meros
joguetes desta e, em última instância, afastando qualquer possibilidade de real
interesse pelos mesmos. Numa produção que era abertamente avessa a tais
protocolos, fosse por pura precariedade, isto era mero detalhe e talvez até
funcionasse a seu favor. Em um filme que, mesmo com todas as suas extravagâncias,
parece bem mais próximo dessa dimensão realista, não o é. O “filme dentro do
filme” é uma notória alusão a Mulheres à
Beira de um Ataque de Nervos (1988), filme que lançou o realizador no
mercado internacional. A determinado momento, o roteirista assiste a cenas de Viagem à Itália (1953), de
Rossellini. Almodóvar parece ter sido
bastante auto-condescendente na exposição de sua trama rebuscada, o que acabou
acarretando uma certa perda de ritmo capaz de provocar cansaço bem antes de seu
final. El Deseo S.A/Universal International Pictures para El Deseo S.A. 127
minutos.
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