Filme do Dia: O Signo do Leão (1959), Eric Rohmer
O Signo do Leão (Le Signe du Lion, França, 1959). Direção: Eric Rohmer. Rot. Original: Eric Rohmer & Paul Gégauff. Fotografia: Nicholas Hayer. Música: Louis Saguer. Montagem: Anne-Marie Cotret. Com: Jess Hahn, Michele Girardon, Van Doude, Paul Bisciglia, Gilbert Edard, Christian Alers, Paul Crauchet, Jill Olivier.
O
músico Pierre Wesselrin (Hahn) é um homem que não conseguiu se adaptar às
exigências pragmáticas da vida como trabalhar. Vivendo sozinho e constantemente
sem dinheiro, sua situação parece se modificar no dia em que é acordado por um
carteiro, que lhe traz uma correspondência que lhe assegura a herança de uma
rica tia industrial falecida. Wesselrin comemora a boa notícia em uma farra
prodigiosa com os amigos, às custas do adiantamento dos comerciantes. Porém,
logo a notícia se demonstrou enganosa e toda a fortuna foi herdado por um primo
seu. Numa situação ainda mais complicada que a habitual, Wesselrin corre atrás
de todos os seus amigos bem situados que, no entanto, o evitam. Expulso da
pensão que é devedor, começa a vagar sem rumo pelas ruas de Paris, encontrando
companhia na figura de outro vagabundo, que o utiliza como trampolim para suas
trapalhadas. Quando se acredita irremediavelmente perdido e beirando a
insanidade, um casal de amigos dos bons tempos, lhe traz a boa notícia de que o
primo morreu e a fortuna poderá ser herdada por Pierre.
Esse
longa-metragem de estréia de Rohmer (que possui seu título devido ao fato do
protagonista não só ser um grande conhecedor da “ciência dos astros”, como do
signo de Leão), não apresenta as características que o tornarão um dos
cineastas com uma das obras mais longevamente únicas da história do cinema.
Estruturado em um modelo narrativo mais convencional, mesmo que as metáforas
morais pouco ortodoxas que o cineasta tanto admira já se encontrem minimamente
presentes, assim como sua inclinação para o realismo, o filme chama mais a
atenção, no entanto, tanto por uma aparente falta de domínio de ritmo narrativo
e por vagabundos que remetem ao Carlitos de Chaplin e ao Boudu de Renoir, como por sua implacável observação sobre a
natureza das relações sociais atreladas ao poder do dinheiro. A presença
constante da trilha sonora e uma atmosfera mais romanesca e menos austera ou
calcada nos diálogos e na sutil construção psicológica que será a marca
registrada do cineasta em seus filmes posteriores também são dignos de nota,
assim como a belíssima fotografia (uma característica marcante das produções da
Nouvelle Vague). A Paris vivida por Pierre se torna mais um pesadelo que a
visão romântica habitualmente cultuada pelo cinema, ao qual o cineasta faz
questão de contrastar explicitamente nos casais de enamorados e turistas que
fazem contraponto ao errante protagonista. Produzido por Claude Chabrol, o
filme apresenta Godard em uma ponta, como o circunspecto convidado da festa que
comemora a herança do protagonista e escuta por um longo tempo o mesmo trecho
de uma composição erudita. Somente seria lançado em 1962. Ajym Films. 103 minutos.
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