Filme do Dia: Missão em Moscou (1943), Michael Curtiz
Missão em
Moscou (Mission to Moscow, EUA,
1943). Direção: Michael Curtiz. Rot. Adaptado: Howard Koch, baseado no romance
de Joseph E. Davies. Fotografia: Berg Glennon. Música: Max Steiner. Montagem:
Owen Marks. Dir. de arte: Carl Julius Weyl. Cenografia: George James Hopkins. Figurinos:
Orry-Kelly. Com: Walter Huston, Ann Harding, Oskar Homolka, George Tobias, Gene
Lockhart, Eleanor Parker, Richard Travis, Helmut Dantine, Henry Daniell, Jack Young.
Quando se prepara para partir para sua primeira férias em quase uma
década, Joseph E. Davies (Huston) é transformado pelo presidente Franklin
Roosevelt (Young) em embaixador americano que viaja para a Alemanha e União
Soviética, tentando apaziguar os ânimos bélicos da primeira e perceber com qual
grupo a segunda irá se aliar quando o conflito mundial estiver estabelecido. A
viagem para Alemanha fracassa e Davies não consegue ter acesso a Hitler, mas na
União Soviética as coisas se dão de forma diferente. Mesmo colocando sempre
suas diferenças ideológicas, Davies é bem recebido e compartilha suas idéias
com as de Stálin, a partir do momento em que o conflito mundial se inicia, e
Hitler passa a conquistar vários países europeus.
Muito do que se perceberá no corpo do filme já pode ser percebido em
seu longo prólogo, antes mesmos dos créditos, no qual o próprio Joseph E.
Davies comenta sobre sua experiência na União Soviética enquanto embaixador
americano. Mais do que tudo, já por seu prólogo se anuncia um filme
“corajosamente” desvinculado de um universo dramático-diegético minimamente
elaborado, algo que vislumbres, como a da preparação para a pescaria podem até
sugerir de início. Vai nessa orientação todo o arsenal de documentários, que
inclusive são contrapostos a ação ficcional para representarem a presença de
Davies junto a manifestações do povo saudando Hitler (na verdade cenas do
documentário O Triunfo da Vontade,
também utilizado ad nauseum pelos
filmes documentais contemporâneos), demonstrações da força soviética na Praça
Vermelha, etc. Assim, como a personificação irrestrita dos diplomatas com as
orientações políticas de seus países, mais do que nunca representada em um
coquetel onde todos se encontram presentes e não se deixa de alfinetar o Japão
pela invasão a China em mais de um momento. Joseph, representa uma nação
americana inocente e sincera (ele sequer havia tido carreira diplomática
anteriormente) e convicta em seu esforço pela paz mundial. Também evocativo do
que se estenderá para todo o restante do filme é o excessivo discurso falado,
que é tido como subterfúgio para apresentar, de forma quase didática, toda a
situação em questão, aliados e inimigos e do qual se abusa de forma demasiado
cansativa para os padrões de um filme de ficção. Não menos importante é o tom
amistoso para com os soviéticos, mas igualmente demarcando sua posição
diferenciada e amante dos valores democráticos e individualistas da nação
americana, que já se fazem presentes no discurso de Davies, que pretendem demarcar
sua distinção quanto a qualquer simpatia pró-comunista, algo que se tornará uma
verdadeira paranoia em poucos anos com o surgimento da Guerra Fria após o
conflito mundial findo. É mais do que patente o esforço para apresentar de
forma simpática os soviéticos, e mesmo de observar em seu esforço industrioso
um germe implantado que descende indiretamente do próprio capitalismo
norte-americano, representado no momento em que um operário explica que os
operários ganham além do salário fixo quando produzem uma quantia maior do que
a média ou que um norte-americano se encontra adaptado lá, mesmo que saudoso de
seu Texas, e não pretendendo voltar ao seu país de origem. Já os nazistas são
apresentados de forma sempre tensa e traiçoeira, trocando olhares cúmplices que
são muito mais significativos dos seus reais interesses do que sua retórica
vazia. Em pouco tempo o filme se tornaria constrangedor para seus
colaboradores, sobretudo o roteirista Koch (que também havia assinado o filme
imediatamente anterior de Curtiz e hoje o mais lembrado de todos, Casablanca), que entraria na lista
negra dos pretensos comunistas em Hollywood. Warner Bros. Pictures. 123
minutos.
Comentários
Postar um comentário