Filme do Dia: As Duas Faces da Felicidade (1965), Agnès Varda
As Duas Faces da Felicidade (Le Bonheur,
França, 1965). Direção e Rot. Original: Agnès Varda. Fotografia: Claude
Bausoleil & Jean Rabier. Música: Jean-Michel Defaye. Montagem: Janine
Verneau. Dir. de arte: Hubert Munloup.
Figurinos: Claude François. Com:
Jean-Claude Drout, Claire Druout, Olivier Druout, Sandrine Druout,
Marie-France Boyer, Marcelle Faure-Bertin, Manon Lanclos, Sylvia Saurel.
François (Jean-Claude Druout) vive uma vida
maravilhosa com sua esposa Therese (Claire Druout) e um casal de filhos(Olivier
e Sandrine Druout) até que, numa viagem de trabalho, é abordado por uma jovem e
bela telefonista, Émilie (Boyer), por quem se sente atraído. François passa a
ter um relacionamento extra-conjugal com Émilie, mas em nenhum momento pretende abandonar sua família, como deixa bem claro para a amante. François revela
tudo para a esposa, que parece reagir com compreensão, e logo depois fazem
amor. Porém, quando ele acorda, não a encontra mais, vindo a encontrá-la
afogada. Passa então, após certo tempo, a se relacionar mais abertamente com
Émilie, que passa igualmente a fazer o papel de mãe para as crianças.
É impossível não se perceber semelhanças dessa obra de
Varda, considerada a mais polêmica de sua carreira, com o que seu então marido,
Jacques Demy, fazia á época. As cores fortes, que trazem um pouco da magia
cenográfica do musical americano clássico para detalhes da província francesa
como portas de casa e mesmo os fades intensamente coloridos que pontuam
todo o filme, assim como uma aproximação irônica do amor romântico, a partir do
recorte num casal de baixo poder aquisitivo (ele carpinteiro, ela costureira)
para ficar em apenas duas. Talvez o mais interessante do filme seja que Varda
evite os aborrecidos e repetitivos caminhos do conflito dramático na representação
de seu triângulo amoroso. E esse acaba não se dando de fato, com o aparente e
abrupto suicídio da esposa de François que, detalhe curioso, é vivida pela
própria esposa do ator na vida real. Varda não deixa de apresentar um certo
charme, seja nas habituais referências aos colegas de trabalho (aqui a Bardot e
Moreau “juntas pela primeira vez” em Viva
Maria!, de Louis Malle) no modo elegante que enquadra o novo casal em um
café, brincando com a profundidade de campo ou repetindo determinadas planos,
cacoete então bastante em voga. Mas mais
do que isso é certamente suas cores vibrantes e sua interpretação naturalista,
algo facilitada talvez por serem de fato uma família, conjugadas com dois temas
de Mozart (um adágio e fuga em C Menor e um quinteto para clarinete) que
provocam uma sensação tátil e quase mesmo olfativas da energia e juventude
vibrante de seu protagonista, ainda quando submersa. A delicadeza com que Varda
filma as cenas de intimidade do casal, já presentes na descrição ainda mais
ousada da intimidade de um casal presente em seu curta L´Opéra Mouffe (1958), demonstra sua formação fotográfica. Parc
Film. 79 minutos.
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