Filme do Dia: Fúria (1936), Fritz Lang
Fúria (Fury, EUA, 1936). Direção: Fritz Lang. Rot. Adaptado: Bartlett
Cormack & Fritz Lang, baseado no conto Mob
Rule, de Norman Krasna. Fotografia: Joseph Ruttenberg. Música: Franz
Waxman. Montagem: Frank Sullivan. Dir. de arte: Cedric Gibbons. Com: Sylvia Sidney,
Spencer Tracy, Walter Abel, Bruce Cabot, Edward Ellis, Walter Brennan, Frank
Albertson, George Walcott.
Joe Walsh (Tracy), encontrando-se
afastado há um ano de sua noiva, Katherine (Sidney), viaja a seu encontro.
Quando se aproxima de sua cidade, no entanto, é preso e confundido com um
criminoso que cometeu o seqüestro de uma criança. Após o ajudante do delegado
espalhar o boato de que há um suspeito na prisão a pequena cidade fica em
polvorosa e decidem se reunir para linchá-lo. Katherine chega no momento em que
a delegacia é depredada e incendiada, desmaiando. Walsh acaba fugindo e indo de
encontro aos seus irmãos, articulando com eles o julgamento de seus
linchadores. A tentativa de linchamento toma proporções ainda mais hediondas
quando o verdadeiro sequestrador se entrega à polícia. Irreconhecível, já que
completamente obcecado pela idéia de vingança, Joe quer ver os 26 acusados
enforcados. Porém, após rever sua noiva, ainda que inicialmente rejeite mudar
de idéia, aparece no tribunal no momento em que a sentença dos acusados está
sendo proclamada.
Primeiro filme de Lang nos Estados
Unidos, aproximando-se de temas caros ao cineasta, como o indíviduo enquanto
encarnação de todos os males sociais (algo presente, igualmente, em M). Fundamental como prova para
incriminar os acusados de linchamento
será a própria imagem cinematográfica, captada por cinegrafistas que filmaram o
episódio, ressaltando a utilização da imagem como prova documental que se
tornaria fundamental em episódios históricos como o holocausto nazista e o
assassinato de Kennedy. Não menos interessante é a sua recusa em transformar o
protagonista em mera vítima, numa mudança semelhante a vivenciada pelo seu
equivalente em Dogville. Ainda que o
filme de Lang possa ser vista como uma subliminar acusação de uma certa
idiotização que é gerada pela sociedade de massas e, particularmente da
sociedade norte-americana (algo bem evidenciado no filme de Von Trier), tal
possibilidade se torna atenuada quando se pensa em propostas semelhantes como a
do próprio M. Não menos comum em sua
recorrência na obra do realizador é o constante conflito entre o que pode ser
considerado autêntico ou falso, trabalhado de modo mais rocambolesco em muitas
de suas produções mudas da década anterior na Alemanha, tais como Dr. Mabuse (1922) e Os Espiões (1928). A certo momento,
para ilustrar a difusão do boato sobre a prisão de um suspeito do seqüestro,
Lang faz uso de uma montagem que alterna um grupo de mulheres bisbilhoteiras e
um bando de galinhas, numa estratégia evocativa, ao menos em termos de pastiche,
da célebre seqüência de Eisenstein em A
Greve (1925), em que ele compara um bando de ovelhas indo para o
abatedouro com os operários se dirigindo à industria. National Film Registry em 1995. MGM. 90 minutos
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