Filme do Dia: Em Busca de um Sonho (1962), Mervin LeRoy
Em Busca de um Sonho (Gypsy,
EUA, 1962). Direção: Mervin LeRoy. Rot. Adaptado: Leonard Spigelglass, a partir
do musical de Arthur Laurents e do livro de memórias de Gypsy Rose Lee. Fotografia:
Harry Stradling Sr. Música: Jule Styne. Montagem: Philip W. Anderson. Dir. de
arte: John Beckman. Cenografia: Ralph S. Hurst. Figurinos: Orry-Kelly & Howard
Shoup. Com: Rosalind Russell, Natalie Wood, Karl Malden, Paul Wallace, Betty
Bruce, Parley Baer, Morgan Brittany, Ann Jillian, Harry Shannon.
Rose Hovick (Russell) é uma veterana do vaudeville, que após
um grande sucesso com suas filhas e um grupo de rapazes próximos, finda por ver
a crescente decadência da carreira, assim como a desagregação do grupo. Seu
empresário e companheiro Herbie Sommers (Malden), é um dos poucos que a
acompanha nessa acidentada trajetória, assim como sua filha Louise (Wood). Rose
foca toda sua atenção em Louise, considerada a filha menos talentosa da trupe –
a outra havia seguido carreira por si só. Quando buscam um retorno a um palco
de certo destaque, descobrem que se encontram em meio a um espetáculo de
variedades burlesco, de forte apelo sexual, o que desagrada inicialmente Rose.
Quando Herbie descobre que a mãe apoia a iniciativa da filha na nova carreira,
a abandona, como os dois maridos que Rose tivera anteriormente. Louise, no
entanto, torna-se, com o apoio da mãe, uma celebridade do strip-tease, mais
evocado do que efetivamente realizado, tornando-se Gypsy Rose Lee e ganhando
notoriedade que sua mãe jamais teve quando jovem, o que causa uma relação de
animosidade entre mãe e filha.
Embora o fato de se deter nos bastidores do entretenimento
norte-americano o faça se aproximar, por esse viés, da temática talvez mais
recorrente do gênero musical em seus anos dourados – dos quais LeRoy foi um dos
colaboradores a erigir, ainda que não exatamente dos mais talentosos – não o
transforma necessariamente num musical. É verdade que a presença de Jerome Robbins
como coreógrafo e Nat Wood como atriz, ambos associados ao recém-lançado Amor, Sublime Amor, deve ter servido
como chamariz à época de seu lançamento, mas o que essa produção talvez detenha
de interessante aos olhos de meio século após seja o fato de apresentar em sua
narrativa um momento de mutação no universo do show business
norte-americano que possui como espelhamento às próprias mudanças que
estavam se efetivando no campo da indústria cinematográfica, algo que fica
patente nas transformações que ocorrem em gêneros clássicos como é o caso do próprio
musical. Aqui, a ênfase no aspecto da atenção maior aos bastidores se faz
visível: o único número com uma maior presença de palco, cenografia e
coreografia apresentado, logo ao início do filme, descobre-se ser um teste para
um produtor, portanto sem a presença do público. Por outro lado, a cenografia
demasiado estilizada e as situações de forte dose de sentimentalidade que
envolvem a relação entre mãe-filha, não apenas incorporam elementos do melodrama
clássico, no estilo Stella Dallas
como borram as distinções entre palco e “vida”, ressaltando o caráter de
espetáculo da própria representação na vida cotidiana. Que não se espere
grandes arroubos de coreografia e/ou cenografia, esses chegam a ser evocados já
quase como um tributo a uma época finda – a determinado momento um personagem
cita Fred Astaire. O filme, apesar de possuir uma metragem desnecessariamente
excessiva, torna-se mais interessante menos por Natalie Wood, no auge da carreira
e do seu repertório algo limitado de expressões faciais, que pela personagem
vivida com uma bravura a um passo do falso e ridículo de Russell, longe de ser
uma mera mãe-vilã ao estilo de Mamãezinha
Querida, mas tampouco destituída de uma forte dose de pragmatismo,
ressentimento e oportunismo. A própria Gypsy Rose Lee, que tentou uma carreira
no cinema no passado se encontrou com Natalie Wood nos estúdios durante a
filmagem e, dada a nova onda de celebridade momentânea envolvendo esse filme,
teria seu espaço na TV. Aldrich pescou elementos dessa história para o seu hoje
de longe mais lembrado e igualmente fazendo uso de uma caracterização de
intepretação excessiva de suas protagonista, O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, lançado no mesmo ano. Warner Bros.
143 minutos.
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