Filme do Dia: Jirokichi, the Rat (1931), Daisuke Ito

Jirokichi, the Rat (Oatsuarae Jirokichi Goshi, Japão, 1931). Direção: Daisuke Ito. Rot. Adaptado: Daisuke Ito, baseado no romance de Eiji Yoshikawa. Fotografia: Hiromitsu Karasawa. Com: Denjirô Okoshi, Naoe Fushimi, Nobuko Fushimi, Reisaburô Yamamoto, Minoru Takase.
Anos 1830. Jirokichi (Okoshi) é um ladrão que somente rouba de ricos e por vezes se solidariza com as dificuldades das pessoas que encontra. É o caso da gueixa Osen, que ele salva de ser roubada, enquanto descobre que seu irmão, Nikichi, pretende se aproveitar do dinheiro do pai de outra moça, a bela Okino. Jirokichi, no entanto, consegue salvar Okino das mãos de Nikichi, matando o inescrupuloso que transformara sua irmã em gueixa.
Trata-se, aparentemente, do único filme mudo de Ito mais ou menos completo. Esta deliciosa aventura possui como ponto ao mesmo tempo positivo e negativo seu dinâmico estilo, de montagem rápida, e com um tempero melodramático nitidamente copiado dos filmes do tipo hollywoodianos, mas devidamente adaptados à cultura nipônica. Nada mais notável quanto a esta última característica que termos apenas uma noção de como tal filme deve ter sido apreciado pelas platéias da época, no sentido de que mesmo a presença  de uma narração over sobre as imagens que procura ser uma espécie de dublê do benshi -característico narrador dos filmes mudos japoneses e talvez um dos motivos para que o cinema mudo japonês tenha continuado, mesmo em consonância com o sonoro, até próximo do final da década – o estilo que tal narração é modelado parece bem mais voltado às necessidades do espectador contemporâneo. Ou seja, nessa cópia, tal narração se limita a imitar os pretensos diálogos entre os personagens e também a acrescentar dados que supririam a narrativa, embora fosse sabido que tais comentários também transcendessem a dimensão narrativa. A força que o filme extrai de sua estrutura popularesca, algo enfatizada pela beleza discreta da atriz que vivencia Okino e por alguns momentos de respiro diante da ação, como aquele em que Osen aprecia a luz da noite entrando pela janela de seu quarto, perde-se um pouco com a articulação confusa que põe em paralelo a história das duas mulheres, tipicamente vítimas, como manda o figurino. O que talvez se deva não apenas a ele não se encontrar completo e nessa cópia  os movimentos se encontrarem por demais apressados, mas igualmente pela própria estrutura semi-lacônica da obra original. O modo como Ito descreve o ambiente degradado do porão do barco ao início não fica muito a dever, guardadas as devidas proporções, a representações semelhantes produzidas por mestres do cinema produzido nos Estados Unidos pouco antes, notadamente Erich Von Stroheim. Okochi, um dos astros mais célebres da época, também protagoniza o belo Sazen Tange and the Pot Worth a Million Ryo (1935), que faz uma releitura um tanto poética de filmes do gênero. A utilização dos entretítulos, algo não tão comum na produção então, trazem a dimensão pouco habitual no ocidente, de se sobreporem por um determinado instante à própria imagem. Nikkatsu. 61 minutos.


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