Filme do Dia: Amor, Sublime Amor (1961), Jerome Robbins & Robert Wise

 


Amor, Sublime Amor (West Side Story, EUA, 1961). Direção: Jerome Robbins & Robert Wise. Rot. Adaptado: Ernest Lehman, a partir do livro de Arthur Laurents e da peça concebida por Jerome Robbins. Fotografia: Daniel L. Fapp. Música: Leonard Bernstein. Montagem: Thomas Stanford. Dir. de arte: Boris Leven. Cenografia: Victor A. Gangelin. Figurinos: Irene Sharaff. Com: Natalie Wood, Richard Beymer, Russ Tamblyn, Rita Moreno, George Chakiris, Simon Oakland, Ned Glass, Tucker Smith, Eliot Feld, Jose De Vega.

Na Nova York dividida por duas gangues, os brancos Jets e os porta-riquenhos Sharks, Maria (Wood), recém-chegada de Porto Rico e irmã de Bernardo, conhecido como Nardo (Chakiris), líder dos Sharks se apaixona por Tony (Beymer), membro algo esporádico dos Jets, cuja participação no grupo se deve mais a sua amizade por seu líder, Riff (Tamblyn). Nardo namora Anita (Moreno), que descobre o interesse de Maria por Tony e, a contragosto, nada fala ao grupo. O policial Schrank (Oakland) monitora os dois grupos que, mesmo assim, conseguem acordar uma rixa em que o mais forte dos Jets, Ice (Smith), irá lutar com Nardo no bar-ponto de encontro de Doc (Glass). Quando todos se preparam para a luta, Tony tenta demovê-los por influência de Maria. Porém a arenga continua e dois são mortos. Riff por Nardo e Nardo por Tony. Porém, nem a morte do irmão faz com que Maria desista de Tony. Indignada com o tratamento que lhe deram quando tenta passar uma mensagem de Maria para Tony, Anita diz que Maria foi morta por Chino (De Vega), um dos mais violentos membros dos Sharks. Tony se desespera e corre pelas ruas clamando que Chino também o mate e uma tragédia de fato ocorre após esse reencontrar Maria.

Musical algo divisor de águas do gênero tanto em termos de incorporar fortemente elementos da dança moderna quanto por trazer elementos habitualmente distantes do gênero, como referências ao submundo das gangues de rua, com letra de uma canção que faz referência a maconha e uma garota da trupe dos Jets bastante masculinizada – algo que não se via nesses termos, guardadas as devidas proporções, desde os musicais coreografados por Berkeley nos anos 1930, que faziam referência a Depressão e ao mundo dos gangsteres. Por outro lado, tende-se ao elevado, ao sublime, na encarnação do amor entre Maria e Tony, surgido sem nenhuma explicação ou intriga prévia, que se cola não assumidamente (não existe referência nos créditos) em Romeu e Julieta, com as escadas de incêndio do prédio popular onde mora Maria servindo como a varanda onde trocam suas juras de amor. E a um elevado-sublime de colorações algo disneyanas em sua articulação fantasia, música, fotografia e cenários estilizados, ainda que uma fabulação que não se exime de seu referente realista. Talvez o seu momento mais inteligente seja o que os Jets encenem a sua própria “delinquência”, passando por referências jocosas a vários tipos de discursos (e, igualmente, de personificações que encarnam tais discursos) como o sociológico, o jurídico, etc. em Gee, Officer Krupke!. Outro que nada fica a dever, sendo mais repleto de páthos, o que apresenta ao mesmo tempo, varias situações e personagens, e que o cantos diversos começam a ser ouvidos, inclusive em contraponto.  Outro momento de brilho é a arenga entre mulheres e homens do grupo porto-riquenho, as primeiras defendendo o sonho e a liberdade de viverem na América, enquanto os segundos ironizando o custo de tal liberdade, a condição de se tratarem de cidadão de segunda categoria em America, canção hoje talvez mais lembrada, embora Maria e, sobretudo, Tonight, sejam musicalmente superiores. E ironicamente o que talvez mais se aproxime do musical clássico. Salta aos olhos o arrojo das coreografias e de seus dançarinos em contraponto a história de amor um tanto engessada e bastante convencional do par central (algo que seria reelaborado de forma bem mais inteligente, em outra chave, por Os Guarda-Chuvas do Amor), eles próprios longe de se integrarem diretamente ao universo da dança em questão. Inicia com um relativamente longa Overture em que apenas se acompanha traços estilizados que virão a se concretizar como o skyline de Nova York, seguidos por deslumbrantes imagens aéreas da cidade até se centrar no território e na apresentação das gangues rivais. Sua inovação, evidentemente, não esconde artifícios bastante tradicionais não apenas em alguns números de canto, como o que Natalie Wood e Rita Moreno dividem no quarto da primeira logo após a morte do irmão de Nardo, mas igualmente em ter a figura do personagem masculino junto aos brancos e a feminina no grupo mais hostilizado. Segue o musical que chegou aos palcos da Broadway em 1957, dirigida e coreografada pelo mesmo Robbins que aqui assina a co-direção. National Film Registry em 1997. The Mirisch Corp./Seven Arts Pictures/Beta Prod. para United Artists. 152 minutos.

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