Filme do Dia: A Cadela (1931), Jean Renoir
A Cadela (La Chienne, França, 1931). Direção: Jean
Renoir. Rot.Adaptado: Jean Renoir & André Girard, baseado no romance de
Georges de La Fouchardière. Fotografia: Theodor Sparkuhl. Montagem: Marguerite
Renoir. Dir. de arte: Gabriel
Scognamillo. Com: Michel Simon, Janie Marese,
Georges Flamant, Gaillard, Romain Bouquet, Pierre Desty, Mancini, Mlle.
Doryans, Magdeleine Bérubet.
Maurice Legrand (Simon) é um pintor frustrado que
trabalha em um escritório e possui uma esposa, Adéle (Bérubet), que apenas
acentua suas fraquezas. Uma noite flagra uma jovem prostituta, Lucienne
Pelletier (Marese) apanhando de seu cafetão, Déde (Flamant). Indignado, aproxima-se
da jovem que, juntamente com Déde, passam a viver da venda dos quadros de
Legrand, inventando um pseudônimo feminino para uma suposta artista americana
que os criaria. Depois de reecontrar Alexis Godard (Gaillard), primeiro marido
de sua esposa, tido como morto na I Guerra, Legrand bola uma estratégia que
culmina com o seu afastamento de Adéle. Buscando refúgio em Lucienne, descobre
que ela é uma aproveitadora sem caráter e a mata. Porém, a culpa recairá sobre
os ombros de Déde que no mesmo dia visitara Lucienne.
Com um prólogo que questiona ironicamente, através de
marionetes, se o filme trata-se de uma comédia moral ou de um drama e que acaba
concluindo tratar-se da eterna história do triângulo amoroso, sendo menos
inventivo e divertido que outra produção dirigida por Renoir da mesma época, Boudu Salvo das Águas (1932), mas nem
por isso sem interesse. Distante do moralismo vitoriano em relação aos costumes
sexuais que era comum na produção americana da época, aproxima-se da literatura
naturalista francesa do final do século XIX. O virtuoso trabalho de câmera, que
flui com um ritmo raro em um período em que o cinema ainda sofria os entraves
da parafernália pesada para captar o som, é um dos destaques. Refilmado no
estilo noir em 1945 por Lang como Almas Perversas. Aqui, o crime ganha
menos destaque que as ironias do destino que fazem com que um completamente
abobalhado protagonista saia-se melhor que os outros personagens menos
ingênuos. Faz-se óbvia a influência do sutil senso de humor do cineasta e a
dubiedade do protagonista no cinema de François Truffaut, em filmes como Uma Jovem Tão Bela Como Eu e outros.
Influência que também se reflete no estilo visual como, por exemplo, a paixão
por enquadramentos das janelas dos apartamentos. Les Films Jean Renoir/Les Établissements Braunberger-Richebé. 95 minutos.
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