Filme do Dia: O Melhor Lance (2013), Giuseppe Tornatore
O
Melhor Lance (La Migliore Offerta,
Itália, 2013). Direção e Rot. Original: Giuseppe Tornatore. Fotografia: Fabio
Zamarion. Música: Ennio Morricone. Montagem: Massimo Quaglia. Dir. de arte:
Maurizio Sabatini, Maurizio di Clementi & Andrea di Palma. Cenografia:
Rafaella Giovanetti. Figurinos: Brioni Maurizio Millenotti. Com: Geoffrey Rush,
Jim Sturgess, Sylvia Hoeks, Donald Sutherland, Philip Jackson, Dermot Crowley,
Kiruna Stamell, Liya Kebede.
Virgil Oldman (Rush) é um homem maduro que
nunca conseguiu se aproximar das mulheres. Distanciado e de modos excêntricos,
é um refinado conhecedor da arte e eventualmente trapaceiro nos leilões que
comanda com a ajuda de um amigo, Billy (Sutherland). A situação muda de
configuração quando uma jovem misteriosa, Claire (Hoeks), pretende fazer um inventário
de seus pais falecidos numa villa romana repleta de antiguidades. O primeiro
obstáculo, compartilhado com o amigo Robert (Sturgess), que pretende criar um
autômato a partir de peças que Virgil encontra na mansão, é o de ver Claire,
que sofre de uma doença que a mantém reclusa em seus aposentos. Tempos depois,
Virgil perceberá que esse é apenas um dos obstáculos que terá que enfrentar
antes de ter acesso a uma verdade que lhe destruirá psiquicamente.
Guiado pela elaboração em dupla linha que
aponta as evidentes imbricações entre o avanço do interesse de Virgil por
Claire e a montagem do autômato que pretende emular um ser humano em alguns
aspectos, como a fala, tal como aquele presente no conto de Poe, o filme também
evidencia paralelos dessa dupla estrutura na própria história de amor que
apresenta quanto na sua leitura enquanto desenvolvimento narrativo/gênero.
Porém não será a torção que aplica a uma trama demasiado romântica, quase uma
atualização dos romances góticos do cinema norte-americano da década de 1940,
com direito a um elemento catártico que praticamente libertará a heroína de sua
trágica reclusão que o salvará de suas
“limitações” que o filme se deterá. As fichas
se encontram postas na caracterização do personagem principal, nos movimentos
de câmera, na trilha sonora e em todas
as demais piscadelas que apontam para um pretenso senso de virtuosidade
narrativa. E, como cereja do bolo, a construção do clichê do personagem
solitário, a quem é dedicado uma sobremesa em homenagem ao seu aniversário em
meio a um restaurante de luxo, vivido por um Rush que se especializou em
cacoetes de tipos excêntricos, reproduzidos aqui no que se pretendem sutis
tiques na face. Ao final, o filme trafega entre tempos distintos e sua
atmosfera persecutória-paranoica é construída sem dificuldade após o mundo
afetivo sonhado por Virgil que guia o filme até quase o final somente se manter
por ser associado ao seu ponto de vista em praticamente tudo que é exposto. Há
a evidente conclusão, de contornos praticamente morais, de que alguém com o
tino para descobrir entre uma obra autentica e uma falsificação no universo da
arte se torna incapaz de fazê-lo quando o que se encontra em questão é um
universo que praticamente desconhece, o dos sentimentos. Em última instância, é
inescapável um certo senso de melancolia de se assistir a um filme de um
cineasta que necessariamente teve que se render a certos mecanismos comuns à
indústria cinematográfica internacional (o filme ser falado em inglês e com
elenco internacional, a falta de aderência efetiva do mesmo ao local onde a
trama ocorre, a facilidade com que a
construção psicológica dos personagens rapidamente se esboroará para atingir o
efeito-surpresa buscado pelo filme, etc.) para voltar a ter um certo destaque
em sua carreira francamente em declínio ou mesmo nunca impulsionada além do
filme-fenômeno (Cinema Paradiso) que
a marcou. Paco Cinematografica/Warner Bros. para Warner Bros. 131 minutos.
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