Filme do Dia: Pai e Filha (1949), Yasujirô Ozu
Pai e Filha (Banshun, Japão, 1949). Direção: Yasujirô
Ozu. Rot. Adaptado: Yasujirô Ozu & Kôgo Noda, a partir do romance Chichi to Musume, de Kazuo Hirotsi.
Fotografia: Yûharu Atsuta. Música: Senji Itô. Montagem: Yoshiyasu Hamamura.
Dir. de arte: Tatsuo Hamada. Com: Setsuko Hara, Chishû Ryû, Yumeji Tsukioka,
Haruko Sugimura, Hohi Aoki, Jun Usami, Kuniko Miyake, Masao Mishima.
Noriko (Hara), mulher de 27 anos, é uma vez mais pressionada pela tia Masa (Sugimura) e o pai
Shukichî (Ryû) para se casar. Para ela, no entanto, nada lhe agrada mais do que
a companhia do pai. O pai, no entanto, inventa que irá ele próprio se unir
novamente a uma mulher e Noriko é apresentada a um homem que se encontraria
dentro de suas exigências. Porém, mesmo aceitando Noriko, na última viagem que
efetua com o pai, ainda pede para permanecer em sua casa. Mesmo no dia do
casamento, ela se encontra mais acabrunhada e triste do que o oposto.
Hara encarnou papel semelhante em ao menos dois outros filmes
dirigidos pelo realizador (o mais célebre deles sendo Era Uma Vez em Tóquio). Mesmo que a premissa da proximidade
excessiva das relações familiares seja observada aqui sem os conflitos diretos
ilustrados em Filho Único (1936),
toda a problemática de Noriko e sua recusa em levar uma vida autônoma está
relacionada a mesma. Como nos outros filmes do realizador, paira sobre o filme
do início ao final, um tema. Aqui é a necessidade de que Noriko venha a casar
por parentes próximos. Em Filho Único, a vergonha do filho de não
possuir um emprego digno. As referências do mundo ocidental estão bem
representadas aqui pela comparação do futuro marido de Noriko, sequer
entrevisto ao longo do filme, com o galã do cinema norte-americano Gary Cooper.
Dentre as marcantes imagens, algo antecipadoras do cinema moderno em seu estilo
pictórico, encontra-se a das bicicletas abandonadas na areia por Noriko e o
empregado do pai, Hattori, a quem se especula inicialmente que poderá ser seu
futuro marido. Por mais que ao final Noriko resolva se casar, o fato de fazê-lo
sob monumental pressão, deixa mais que patente que os anos mais marcantes da
sua vida foram aqueles vividos ao lado do pai, algo não muito diverso do
protagonista de Filho Único, que
chega a se arrepender de ter saído da casa da mãe, mesmo já se encontrando
casado e com filho. Ou seja, parece haver um continuado pessimismo do
realizador com relação aos laços parentais como potenciais matrizes para a
infelicidade futura de seus personagens, para sempre aprisionados a eles,
componente que pode ter implicações autobiográficas, já que é sabido que o
próprio realizador jamais formou família e viveu com sua mãe até a morte dela,
pouco tempo antes da sua própria. Curiosamente, tampouco Setsuko Hara formaria
família, abandonando o cinema pouco após a morte de Ozu. Por mais que seus
filmes da maturidade tenham, via de regra, granjeado maior prestígio junto à
crítica, até mesmo por apresentar de forma mais codificada e consciente o seu
estilo ímpar, filmes como Filho Único
e outros realizados antes de sua aclamação internacional possuem uma vitalidade
talvez ainda mais pujante. Shôchiku Eiga. 108 minutos.
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