Filme do Dia: Vende Caro o Teu Amor (1950), Alberto Gout
Vende Caro o Teu Amor (Aventurera, México, 1950). Direção:
Alberto Gout. Rot. Adaptado: Alberto Gout, Carlos Sampelayo & Álvaro
Custodio, a partir de conto do último. Fotografia: Alex Phillips. Música:
Antonio Díaz Conde. Montagem: Alfredo Rosas Priego. Dir. de arte: Manuel
Fontanals. Figurinos: José Díaz “Pepito”. Com: Niñon Sevilla, Tito Junco,
Andrea Palma, Rubén Rojo, Miguel Inclán, Jorge Mondragón, Maruja Grifell, Luis
López Somoza, Pedro Vargas, Salvador Lozano.
Elena
Tejero (Sevilla), filha de uma família de alta posição social, vê sua vida
destroçada após descobrir que sua mãe (Grifell) não apenas possui uma relação
amorosa com Ramon (Lozano) como abandona o pai, que se suicida. Desesperada e
desempregada, Elena encontra casualmente Lucio (Junco), que a leva ao cabaré da
não menos inescrupulosa Rosaura (Palma), que a obriga a se prostituir. Quando
de uma apresentação no cabaré, Elena chama a atenção do jovem e rico Mario (Rojo), que se apaixona e decide se
casar com ela. Quando vai apresenta-la a sua mãe, descobre ser ninguém menos
que Rosaura. Uma situação de tensão crescente surge entre as duas
mulheres. Rosaura não fala sobre a ação
criminosa que sabe que Elena se envolveu e essa nada diz sobre a vida dupla da
respeitável mãe de família. Em pouco tempo, no entanto, tal situação mudará.
Com
números musicais muito mais diretamente eróticos que seus correspondentes
hollywoodianos (ou mesmo outras produções com a estrela, tal como Vítimas do Pecado) mais nem por isso
interessantes enquanto coreografia, como sobretudo o do mercado persa, sendo tão kitsch quanto o
próprio melodrama rocambolesco que era produzido em massa nos estúdios
Churubusco, em que principais e coadjuvantes repetem quase sempre a mesma
persona já consolidada em produções anteriores, da criada indígena ao pachuco vivido por Junco, aqui levemente
mais inescrupuloso que em Vítimas do
Pecado e uma Andrea Palma visivelmente inspirada na figura de Marlene
Dietrich. Não falta tampouco o mesmo cantor-ator Pedro Vargas, fazendo um
comentário musical sobre a personagem, como habitual ou o donzelo apaixonado de
Rojo e Somoza, de quem Buñuel extraiu comicidade em sua abordagem irônica do
melodrama com Susana. Falta de
sutileza que ao menos trai uma postura original em termos de exposição
narrativa, algo que não se pode dizer, por exemplo, dos excessos habituais e
previsíveis, como o do suicídio do pai logo ao início. Há uma evidente
referência a sua colega mais internacionalmente famosa, Carmen Miranda, então
com a carreira já francamente em declínio, assim como ao Bando da Lua com duas
canções, uma delas Chiquita Bacana, no título da canção, nos malandros estilizados,
adereços e requebros, no samba cantado
em português e no cenário evocativo do Rio, mais que provável flerte com
o público brasileiro, também grande consumidor dos filmes estrelados por
Sevilla. Mais interessante enquanto afirmação da protagonista e da sexualidade
feminina que Vítimas do Pecado e
consciente manipulação do desejo masculino de seu marido, aproximando-se, ainda
que por um viés bem mais convencional, do filme de Buñuel. Mais interessante
que seu enredo repleto de golpes de efeito, saturado de coincidências e
personagens que servem como uma luva para as situações, como o Rengo (vivido
pelo mesmo vilão de Maria Candelaria,
Inclán, que aqui sofre um processo no qual se transforma de um vilão menor em
admirador irrestrito, espécie de cão fiel de Elena, que mata seu dois algozes)
é certamente a sua reflexão não menos tortuosa sobre a hipocrisia e a dupla
moral da sociedade mexicana, mesmo sucumbindo a um final feliz protocolar e
nada convincente. Torna-se crescente a teia de situações em que a heroína vai
se tornando refém e vendo ser manchada a sua “reputação” inicial, enquanto
correspondentemente cresce o ressentimento que parece se voltar não apenas
contra as figuras masculinas – que, a determinado momento, são observadas em
uma montagem de situações de assédio nos vários empregos tentados por Elena –
como contra o seu próprio sexo, maculado pela figura de ambiguidade moral
representada pela mãe que se reproduzirá outra vez mais adiante com Rosaura.
Energia essa da qual Elena também se alimentará ao longo de sua trajetória a
qual se redimirá ao final, num movimento semelhante ao esboçado pela própria
mãe na hora da morte. Cinematográfica Calderón S.A. 101 minutos.
Comentários
Postar um comentário