Filme do Dia: Capitu (1968), Paulo César Saraceni
Capitu (Brasil, 1968). Direção: Paulo César
Saraceni. Rot. Adaptado: Paulo César Saraceni, sobre o argumento de Lygia
Fagundes Telles & Paulo Emílio Salles Gomes e romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Fotografia: Mário Carneiro.
Música: Marlos Nobre. Montagem: Nello Melli. Dir. de arte: Anísio Medeiros.
Figurinos: Ana Mendonça. Com: Isabela, Othon Bastos, Raul Cortez, Rodolfo
Arena, Nélson Dantas, Marília Carneiro, Maria Morais, Wagner Lancetta.
Namorados desde a
infância, o casamento de Bentinho (Bastos) com Capitulina (Isabela) transcorre
no mais absoluto padrão de normalidade para a elite econômica de então. Entre
os poucos amigos mais chegados se encontram Ezequiel Escobar (Cortez) e sua
esposa, Sancha (Carneiro). Gradativamente, no entanto, Bentinho começa a ter
sérias desconfianças sobre a infidelidade de sua amada Capitu com o amigo
Escobar. Ainda assim, quando o filho nasce lhe dá o nome de Ezequiel
(Lancetta). Certa noite, ao retornar do teatro, ida que sua esposa abdicou por se sentir indisposta, Bentinho encontra Escobar diante de sua casa,
afirmando que esperava por ele, o que apenas faz aumentar sua desconfiança.
Após a morte de Escobar por afogamento a situação apenas piora, pois Bentinho
vê no filho os traços do amigo morto e pensa inclusive em envenená-lo. Acaba
expressando sua desconfiança com a esposa.
Embora essa
adaptação tenha sofrido não poucas críticas por sua aparente falta de
vitalidade, cumpre atestar que o seu clacissismo decadentista, evocativo dos
filmes menos inspirados de Visconti, como O
Inocente (1976), é muito bem explorado pela conjunção do elenco, fotografia
soturna e trilha musical compondo uma relativamente sólida organicidade. Não à
toa seu tom poético de crônica de costumes de um processo de degradação
familiar vai ser bastante presente na obra de Saraceni, notadamente na sua
trilogia adaptada da obra de Lúcio Cardoso, com destaque para A Casa Assassinada (1971). Ao mesmo
tempo o distanciamento emocional diante das ações apresentadas e o retrato de
ciumento contido a muito custo por Bastos provavelmente devem ter sido
decisivos para que Hirzsman o escolhesse para viver outro ciumento célebre da
história de nossa literatura, o Paulo Honório de seu São Bernardo (1973). Embora
utilize bem o recurso da encenação dentro da encenação, nas sequências filmadas
em teatro, o momento em que Bentinho se vê encarnando o próprio Hamlet e
assassinando sua amada Desdemona, vivida igualmente por Capitu, soa por
demais over. Carlos Diegues Prod.
Cinematográficas/J.P. Prod. e Adm. Cinematográfica/Saga Filmes/L.C. Barreto
Prod. Cinematográficas/Prod. Cinematográficas Imago/Saga Filmes/Tekla Filmes.
105 minutos.
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