The Film Handbook #22: Dennis Hopper
Dennis Hopper
Nascimento: 17/05/1936, Dodge City, Kansas, EUA
Morte: 29/05/2010, Venice Beach, Califórnia, EUA
Carreira (como diretor): 1969-2008
Por volta de meados dos anos 70, parecia que a carreira de Dennis Hopper como diretor estava acabada; drogas e auto-complacência fizeram seu estrago e a única saída para seu talento único parecia ser o de ator em produções alternativas baratas. Nos anos 80, no entanto, ele se tornou uma inventiva e influente figura tanto nos campos da interpretação como da direção.
Hopper realizou sua estreia enquanto ator como adolescente indisciplinado em Juventude Transviada/Rebel Without a Cause, de Nicholas Ray, uma experiência que lançou uma longa sombra sobre sua obra futura. Durante o final dos anos 50 e os 60, ele alternou entre o mainstream hollywoodiano (Assim Caminha a Humanidade/Giant, Sem Lei e Sem Alma, diversos filmes para Henry Hathaway) e produções alternativas, frequentemente desconsideradas, realizadas por Curtis Harrington, Warhol e Corman (Viagem ao Mundo da Alucinação/The Trip). Sua forte presença como jovem marginal, frequentemente violento e rebelde, possibilitou, por fim, sua estreia como diretor com Sem Destino/Easy Rider>1, uma odisseia de motoqueiros perfeitamente antenada com o desencantamento espiritual e o hedonismo baseado nas drogas da juventude contemporânea. Enquanto Hopper e Peter Fonda (o produtor do filme) viajam às custas das drogas que traficam até o carnaval de New Orleans, sua viagem em busca da liberdade por estradas vicinais do Sul os levam as dimensões míticas de um western; se, no entanto, os caipiras que os perseguiam por sua aparência hippie são apresentados como auto-complacentes e fanáticos em resposta ao espírito pioneiro dos heróis, o filme é, não obstante, tanto uma celebração quanto um lamento, com os motoqueiros descritos como desarticulados, ingênuos e, por fim, condenados. Minutos antes de morrer em um incidente de tiroteio que não significou nada além de diversão para dois motoristas de caminhão eles tardiamente reconhecem: "Nós fracassamos."
O enorme sucesso do filme de baixo orçamento de Hopper surpreendeu os magnatas de Hollywood, que não apenas tentaram segui-lo com uma série de filmes jovens com estradas enlamaçadas mas virtualmente deu a Hopper carta branca para seu próximo filme, The Last Movie. Ainda que tipicamente original, foi tanto pretensioso quanto confuso. O personagem central, um dublê trabalhando em um western no Peru, torna-se fatalmente enredado numa recriação ritual do cinema pelos índios quando a equipe volta para casa. Se as câmeras de madeira dos peruanos são artificiais, a violência é bastante real. Fragmentado, incoerente e obscuro, o filme nunca foi lançado de forma apropriada, e Hopper passou a década atuando para os outros, sua vulnerabilidade romântica e sua energia volátil e maníaca emprestaram um poder sombrio a deliciosos filmes de baixo orçamento como Kid Blue Não Nasceu para a Forca/Kid Blue, de James Frawley, Mad Dog Morgan, de Philippe Mora, Tracks, de Henry Jaglom e, mais memorável de todos, O Amigo Americano/The American Friend, de Wenders.
Uma ponta em Apocalipse Now, de Coppola o levou a chamar de volta atenção de um público mais amplo e, em 1980, ele realizou Anos de Rebeldia/Out of the Blue>2. Novamente o filme se centra no abismo geracional, mas dessa vez Hopper interpreta um pai alcoólatra que vai para a cadeia após colidir com um ônibus escolar, possuindo sentimentos incestuosos por sua filha punk.Tanto em seu retrato ácido dos valores provincianos quanto em sua estranhamente comovente análise das raízes da delinquência, o filme exala um senso de perigo através de imagens desagradáveis e performances cruas que sempre ameaçam crescerem indefinidamente em excesso histérico. Frequentemente, a paranoia e confusão na tela parecem espelhar a personalidade do diretor fora da tela, como nas posteriores interpretações de O Selvagem da Motocicleta/Rumble Fish, de Coppola, Juventude Assassina/River's Edge, de Tim Hunter e Veludo Azul/Blue Velvet (onde seu louco, ameaçador e degenerado sexual sádico domina o filme), de Lynch, testemunham sua habilidade em recorrer aos seus próprios demônios na criação de personagens de intensidade notável e extrema.
Em 1988, a continuada importância de Hopper como artista provocador e nada ortodoxo ficou evidente com o controvertido sucesso de As Cores da Violência/Colors>3, um admiravelmente auto-disciplinado, mesmo que fragmentado, suspense policial sobre a horrível violência conhecida da briga entre gangues em Los Angeles. O filme é memorável por seu diálogos autenticamente coloquiais e pela interpretação soberbamente sensível de Robert Duvall. Mesmo agora, na faixa dos 50 anos, o ator-diretor preserva uma rara e impressionante compreensão da juventude,sua anti-sentimental simpatia por marginais idealizados, loucos sonhadores e rebeldes sem causa outra que a pura sobrevivência não diminuiu. De fato, quanto mais o tempo passa, a lúcida obra de Hopper parece ainda corajosa e relevante.
Cronologia
As experiência de Hopper com Ray, James Dean e Corman, tem marcado claramente sua dissidente carreira; Escalar Sam Fuller em The Last Movie é possivelmente um tributo a mais uma influência, ainda que as crescentes aparições de Hopper nos filmes dos outros sugiram, por sua vez, o imenso apreço de diretores mais jovens por ele.
1. Sem Destino, EUA, 1969 c/Hopper, Peter Fonda, Jack Nicholson, Karen Black
2. Anos de Rebeldia, EUA, 1980, c/Hopper, Linda Manz, Sharon Farrell, Raymond Burr
3. As Cores da Violência, EUA, 1988 c/Robert Duvall, Sean Penn, Maria Conchita Alonso
Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, pp. 135-6.
Texto: Andrew, Geoff. The Film Handbook. Londres: Longman, pp. 135-6.
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