Filme do Dia: A Caldeira do Diabo (1957), Mark Robson
A Caldeira do Diabo (Peyton Place, EUA, 1957). Direção: Mark
Robson. Rot. Adaptado: John Michael Hayes, a partir do romance de Grace
Metalious. Fotografia: William C. Mellor. Música: Franz Waxman. Montagem: David
Bretherton & James B. Clark. Dir. de arte: Jack Martin Smith & Lyle R.
Wheeler. Cenografia: Bertram C. Granger & Walter M. Scott. Figurinos: Adele
Palmer. Com: Diane Varsi, Lana Turner, Lee
Philips, Lloyd Nolan, Arthur Kennedy, Russ Tamblyn, Terry Moore, Hope Lange, Barry
Coe, Betty Field, Mildred Dunnock.
Na
pequena cidade de Peyton Place, um charmoso professor, Michael Rossi (Philips)
torna-se o novo administrador da escola local. Na escola estudam a sonhadora
Allison McKenzie (Varsi), sempre assediada pelos escrúpulos da mãe, Constance
(Turner), e apaixonada pelo desajeitado Norman Page (Tamblyn). E também Selena Cross (Lange), filha da
faxineira de Constance, Nellie (Field), recorrentemente abusada pelo pai
alcoólatra, Lucas (Kennedy). Assim como Rodney Harrington (Coe), apaixonado
pela ousada Betty Anderson (Moore), para a infelicidade de seu pai (Ames).
Rossi se sente atraído desdo o primeiro momento por Constance, que desde a
morte do pai de Alisson, tem se fechado para qualquer relacionamento. Nellie,
atormentada por todos os sofrimentos impostos por Lucas, suicida-se. Allison
decide abandonar a cidade por Nova York, para fugir do provincianismo tacanho,
rompendo com a mãe. Os rapazes partem para a guerra. Selene assassina o
padrasto após mais uma de suas investidas contra ela, quando sai de folga da
Marinha. Seu julgamento traz de volta à cidade Allison, que reencontra Norman
no trem.
Essa
produção bem poderia ser o equivalente,
à sua época, do que Loucuras de Verão
o foi duas décadas após. Poderia. Enquanto o filme de George Lucas aborda o
universo da juventude dos idos dos anos
60 nos 70, aqui se retorna ao período da Segunda Guerra Mundial que
antecede e procede ao envolvimento dos EUA na Guerra. Certamente as mudanças
que separam os idos de 70 dos idos da década anterior são muito mais acentuadas
ou visíveis do que o maior hiato temporal que separa o início dos anos 40 dos
últimos anos da década seguinte, mas não é apenas isso que os diferencia. O
filme de Lucas foi produzido com o intuito de meramente entreter. Aqui se busca
o drama. Porém já de início, quando os créditos apresentam os nomes dos atores
juntamente com os de seus respectivos personagens se percebe que o caráter de
seriado televisivo se aplicaria melhor ao que se segue – e não é à toa que se tem
tal sensação, já que uma série de TV surgiria, de fato, em meados da década
seguinte. Falta a sutileza com a qual contemporaneamente um realizador como
Douglas Sirk trabalhou temas semelhantes. E também faltam os seus excessos, o
melodrama rasgado aqui substituído por pretensões mais realistas – e também
mais canhestras – de expressar o maior anseio do cinema da época (de sua produção mais que situado sua narrativa, diga-se de passagem), o sexo. Porém, em nada ajuda se
observar uma discussão entre uma tensa “viúva”, interpretada de forma nada
elaborada com os cacoetes típicos do período por Lana Turner e o novo homem que
chega para cuidar da escola e imediatamente se sente atraído por ela, sobre
sexo, para logo em seguida ela se deparar com sua filha e seus colegas de
escola se beijando e dançando na noite de seu aniversário. A caricatura e as interpretações pífias,
infelizmente, não ficam restritas a Turner. Elas se encontram por toda parte.
Do padrasto alcoólatra e algo incestuoso de Selena vivido por Arthur Kennedy ao
introvertido e nerd-queer antes do tempo de Norman/Russ
Tamblyn, passando, em menor medida, pela própria revelação do filme,
representada pela Alisson de Varsi. Quando o melodrama esperadamente ganha
destaque em relação às pretensões de descrição realista o faz de forma
descaradamente sobreposta – o “drama” de Constance se vê refletido no que supõe
ser o atrevimento da filha com Norman, que a leva a revelar que o pai da mesma
era um homem casado e, logo depois, como golpe de misericórdia, a filha encontra
a criada morta por suicídio. Chega a ser involuntariamente cômico esse
crescendo dramático desenfreado. O número excessivo de personagens é outra
característica que adéqua melhor ao formato seriado, sendo canhestro que se
explore inúmeros personagens sem a menor necessidade, como é o caso da
caricatura de típica professora solteirona e frágil vivida pela veterana Dunnock ou mesmo de algumas tramas
secundárias que não possuem estofo dramático o suficiente, como o do casal
Betty e Rodney. Se é certa que há uma ânsia em trazer temas chocantes relativos
a nova moralidade do pós-guerra e que no cinema somente ganham as telas na
segunda metade da década seguinte, essa talvez se faça dentro de uma moldura
mais convencional que a presente em alguns dos filmes de Otto Preminger. Twentieth Century Fox Film Corp./Jerry
Wald para 20th Century Fox. 157 minutos.
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