Filme do Dia: Deus da Carnificina (2011), Roman Polanski
Deus da Carnificina
(Carnage, França/Alemanha/Polônia/Espanha,
2011). Direção: Roman Polanski. Rot. Adaptado: Roman Polanski & Yasmina
Reza, a partir da peça de Le Die udu
Carnage, de Reza. Fotografia: Pawel Edelman. Música: Alexandre Desplat.
Montagem: Hervé De Luz. Dir. de arte: Dean Tavoularis. Cenografia: Franck
Diago. Figurinos: Milena Canonero. Com: Jodie Foster, Kate Winslet, Christoph Waltz, John C. Reilly, Elvis Polanski, Eliot
Berger.
Dispostos a
conversar com os pais do garoto que bateu com o taco de beisebol em seu filho,
o casal Penelope e Michael Longstreet (Foster e Reilly), recebe Nancy e Alan
Cowan (Winslet e Waltz). O que era aparentemente uma civilizada reunião na qual
o ressentimento pela violência sofrida não impediu que o casal Longstreet
expressasse sua polidez transforma-se num confronto entre os quatro, que se
torna crescente a medida que o álcool e a tensão começam a demonstrar seus
efeitos.
Muitos são os
motivos para que mais uma empreitada de Polanski em um ambiente claustrofóbico
e seu desvelamento da superfície polida, mas falsa, das relações burguesas, não
se justifique a contento. Antes de tudo, por sua evidente pretensiosidade. O
original de Reza, também co-roteirista, tem como pretensão tocar criticamente
em pontos como a blindagem para os verdadeiros sentimentos e emoções,
resumindo, a hipocrisia, proporcionada pelo politicamente correto, representado
aqui sobretudo pela Penelope de Foster, mas que se torna a atitude dominante
nas relações sociais burguesas. Sim, a crítica se encontra posta, porém longe de
uma engenhosidade e/ou originalidade de fato, assim como – e pior – longe do que outro filme, baseado em
um dramaturgo mais talentoso, havia conseguido quase meio século antes dessa
produção vir à luz (Quem Tem Medo de V.Woolf?). Aqui tudo soa mais irreal, gratuito, inverossímil. Depois a
atitude de optar por uma direção de atores francamente teatral soa pouco
condizente com a filmografia do realizador, mesmo quando relacionada a
adaptações teatrais. A visão que Polanski destila do excesso de suscetibilidades
contemporâneas é previsivelmente cínica e parece quase sempre coincidir com o
instinto e a agressividade que assomam rapidinho quando as máscaras da
civilidade caem. Porém, corre-se o risco do clichê quase caricatural como o do
excesso de ligações para o celular do acionista Alan, ainda quando elas sirvam
como leitmotif para interferir na ira
de Penelope em relação a este. Com um começo que apresenta a ação que se torna
o pretexto para o filme e um retorno ao mesmo parque, agora acrescido do hamster de estimação da família
deliberadamente solto por Michael, ainda que o final tampouco seja bem
resolvido, já que demasiado abrupto. Sua proximidade com o tempo real sugere
aproximações com Festim Diabólico (1948), de Hitchcock, cineasta por demais apreciado por Polanski. SBS
Prod./Constantin Film Produktion/SPI Film Studio/Versátil Cinema/Zanagar
Films/France 2 Cinéma para Sony Pictures Classics. 80 minutos.
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