Filme do Dia: Where are My Children? (1916), Phillips Smalley & Lois Weber
Where are My Children? (EUA, 1916).
Direção: Phillips Smalley & Lois Weber. Rot. Adaptado: Lois Weber &
Phillips Smaley, baseado no conto de Lucy Payton & Franklin Hall.
Fotografia: Stephen S. Norton & Allen G. Siegler. Com: Tyrone Power Sr.,
Helen Riaume, Marie Walcamp, Cora Drew, Rena Rogers, A.D. Blake, Juan de la
Cruz, C. Norman Hammond.
O bem sucedido promotor Richard Walton (Power Sr.) é
financeiramente muito bem situado e possui uma mulher (Riaume) que ama,
sentindo-se frustrado apenas por não ter filhos. Mal sabe ele que sua esposa,
no meio do círculo de socialites que também fazem o mesmo, evita através de
abortos o nascimento dos filhos do casal, para que possa se dedicar mais tempo
as futilidades de sua vida social. O irmão de sua esposa (Blake) se sente
atraído pela filha da governanta, Lilian (Rogers), que ingenuamente acredita em
suas promessas e dele engravida. Ele a leva a mesma clínica de abortos
clandestinos, mas Lilian morre de complicações do aborto. Indignado, Walton
processa o médico, Dr. Malfit (Cruz), que quando finalmente é condenado a
vários anos de prisão, grita contra Walton que ele deveria antes de condenar os
outros, observar o que acontecia em sua própria casa. Walton descobre então
entre os registros do médico o nome de sua esposa. A vida dos dois jamais será
a mesma e a pergunta que os acompanhará até a velhice é: onde estão as minhas
crianças?
Num dos mais polêmicos filmes da década, o casal de
realizadores consegue empregar um nível de virtuosidade narrativa que,
guardadas as distinções com o modo de produção
de Suspense (1913), talvez
nada fiquem a dever àquele. A não ser, talvez, a informação excessiva que
provoca uma certa confusão entre as verdadeiras funções e objetivos dos
personagens em alguns trechos de sua primeira metade, algo que certamente deve
ser associado a utilização ainda recente da narrativa estendida aos padrões de longa-metragem. Sendo abertamente um filme de mensagem,
mensagem diga-se de passagem mais específica e contemporaneamente mais polêmica
do que as investidas de Griffith no tema universal e praticamente a-histórico
da intolerância em filme de mesmo título lançado no mesmo ano. Ainda que o
filme compartilhe da posição extremamente conservadora do seu empertigado
promotor paladino da moral, a situação dele ter que lidar com o problema em sua
própria casa provoca um matiz mais complexo senão para a postura do promotor,
que aparentemente não revisará e antes se tornará ainda mais consciente de suas
certezas quanto ao aborto, agora as sentindo inclusive de forma concreta, pelo
menos para sua expectativa de que isso somente acontecesse com outros,
sobretudo de classe menos privilegiada e não com a própria elite a qual faz
parte. Mesmo que existam momentos nos quais toda a overdose gestual
característica do melodrama se faça presente, sobretudo quando a esposa é
enfrentada por seu marido agora sabedor de tudo, esses são relativamente pouco
presentes ao longo da narrativa, onde impera relativa sobriedade. Não faltam
evidentemente momentos de pieguice, como o final que, fazendo uso de
sobreimpressões, apresenta o casal anos após, já envelhecido, sentados nas
mesmas poltronas, amargando uma solidão pela ausência dos filhos que surgem
igualmente como espectros de uma felicidade para sempre interditada por conta
da vaidade imatura da juventude feminina. Poder-se-ia acusar o filme de misoginia,
mas antes o que mais pesa e se encontra datado talvez seja suas evocações não
muito esclarecedoras e positivas sobre o eugenismo, também marcadas na
agressividade fascista com que o Dr. Walton observa uma briga entre um casal na
corte e afirma como teria sido melhor a mulher sequer tivesse nascido; posição
de simpatia para com o controle de natalidade que se verá demovido radicalmente
depois pelos próprios fatos – a morte da filha da empregada, sua relação com a esposa ao saber de tudo. Ainda
assim, o filme não deixa de apresentar uma versão contrária, com direito a
ilustração da fala de seu defensor através de um flashback, no qual um médico que escreveu um livro sobre o controle
de natalidade defende seus argumentos através de sua experiência nos ambientes
proletários onde trabalhou. National Film Registry em 1993. Lois Weber Prod. para Universal Film Manuf. Co. 63
minutos
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