Filme do Dia: Anjos do Arrabalde (1987), Carlos Reichenbach
Anjos
do Arrabalde (Brasil, 1987). Direção e Rot. Original: Carlos Reichenbach.
Fotografia: Conrado Sanchez. Música: Luiz Chagas & Manoel Paiva. Montagem:
Eder Mazzini. Dir. de arte: Sebastião de Souza. Com: Betty Faria, Clarisse
Abujamra, Irene Stefânia, Vanessa Alves, Ênio Gonçalves, Emilio Di Biasi,
Ricardo Blat, Cilas Gregório, José de Abreu.
Três professoras de uma escola suburbana e uma manicure em
suas relações profissionais e afetivas. Dália (Faria), ainda que lésbica,
mantém uma relação próxima com o amigo e editor, Carmona (Di Biasi), sendo
seduzida pelo próprio irmão marginal, Afonso (Blat). Mesmo bem sucedida
profissionalmente, é discriminada na escola por suas preferências. Carmo
(Stefânia), oprimida pelo marido machista e ex-policial Henrique (Gonçalves), finge
ter abandonado por completo o emprego, mas lhe diz que apenas pedira um
afastamento e pretende retornar a ele. Rosa (Abujamra) é mulher solitária e
afetivamente problemática, mantendo uma relação pouco prazerosa com o inspetor
da escola, Soares (Abreu), estendendo seu descontentamento para a própria
profissão. Aninha (Alves) é a manicure pobre que provocará um crime trágico,
extrapolando a ação cotidiana de todos para além da intimidade dos mesmos.
Ao explorar o universo do subúrbio a partir da ótica
sobretudo feminina das personagens principais, Reichenbach comete em dose
talvez acentuada os mesmos deslizes presentes em trabalhos posteriores com
temática semelhante, tais como Garotas
do ABC (2004). Na sua busca por uma poética que se afaste do drama burguês
usual, o filme encontra não poucos obstáculos que vão desde a sofrível direção
de atores até a mal costurada e dispersiva conexão dos subenredos e os pouco
originais clichês sociais atrelados à trama, que ressaltam a violência com
traços por vezes involuntariamente ridículos. Para complicar, além do crime no
qual Aninha se vê envolvida, espécie de catarse cumulativa vivida por todos os
personagens, principalmente os femininos, do filme, o cineasta ainda faz
questão de apresentar em paralelo o suicídio de Rosa. O tom canhestro da maior
parte das interpretações, com destaque para Ênio Gongalves e o ritmo frouxo da
narrativa são evocativas da dramaturgia presente nas pornochanchadas produzidas
na década anterior, gênero ao qual o próprio Reichenbach chegou a assinar
alguns títulos. Embora a precariedade possa sugerir uma identificação com o
próprio meio social retratado, seu realismo social se encontra a anos-luz da
eficácia de realizadores que buscaram estratégias semelhantes como Ken Loach na
Inglaterra ou mesmo Ricardo Elias no Brasil com seu De Passagem (2003). Embrafilme/Produções Cinematográficas
Galante/Transvídeo. 87 minutos.
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