Filme do Dia: Gabbeh (1996), Mohsen Makhmalbaf
Gabbeh (Gabbeh, Irã/França, 1996) Direção: Mohsen Makhmalbaf. Rot.Original:
Mohsen Makhmalbaf. Fotografia: Mahmoud Kalari. Música: Houssein Alizadeh.
Montagem: Mohsen Makhmalbaf. Com: Shaghayegh Djodat, Hossein Mohrami, Roghieh Moharami, Abbas Sayahi.
Garota chamada Gabbeh (Djodat) procura
de todas as maneiras burlar os homens e as mulheres da aldeia e fugir com o
cavaleiro que a persegue. Frustrada em todas as tentativas, quando consegue
finalmente é assassinada juntamente com ele por um membro da aldeia que vira a
fuga. Gabbeh ao mesmo tempo vive a história e a narra com a participação de um
velho senhor (Moharami) e de uma velha senhora, que logo percebemos serem - e
não serem - uma representação do casal
na velhice . Através do tapete - gabbeh - que a velha senhora lava no início do filme aparece a imagem da
jovem que passa a contar sua história.
O filme é de
extremo hermetismo com inúmeras simbologias com relação aos tapetes (inclusive
na exuberantemente original fotografia) de difícil compreensão talvez até para
os iranianos e completamente obscuras para nós. O que fica de mais perceptível
é que os tapetes simbolizam a própria vida e anseios e expectativas daqueles
que os fazem. Outro elemento que não ajuda é a ausência aparente de conflitos na narração dessa história (e
como dizia o célebre fotógrafo de cinema Gabriel Figueroa, sem conflito não há
cinema) - até o conflito principal do filme parece perder muito de sua força nessa narrativa que
teima em sua heroica austeridade. Tudo parece extremamente idílico na descrição
dessa comunidade tradicional no sentido pleno da gemeinschaft de que falava Tönnies, pelo menos até a metade do
filme. Só posteriormente é que percebemos que o conflito é trabalhado de uma
forma extremamente sutil. Os esforços seguidos da protagonista fazem lembrar
tanto o celebrado Através das Oliveiras
de Kiarostami quanto e, principalmente, O
Balão Branco (1995), de Jafar Panahi, ambos mais acessíveis. Porém não há como não ficar
fascinado por este estranho realismo e atmosfera original que parecem estar
presentes em todas essas produções do novo cinema iraniano, principalmente nos
primeiros minutos do filme, com frequentes incursões em formas ousadas de
desenvolver a narrativa cinematográfica, como na aula do tio de Gabbeh
(Sayahi). O filme conta ainda com um motivo comum a boa parte da nova
filmografia iranianiana: a da relação entre vida e arte, ainda que não chegue
ao ponto de utilizar-se de metalinguagem como o filme de Kiarostami e em Salve
o Cinema, do próprio Makhmalbaf. Dos
filmes citados, provavelmente este é o que mais trabalha com experiências na
montagem e no fluxo narrativo. A situação da opressão feminina também é
trabalhada, constituindo como percebemos o próprio eixo da trama. Não há como não fazer paralelos com a obra de Paradjanov, em filmes como A Lenda da Fortaleza Suram. MK2
Productions/Sanaye Dasti. 85 minutos.
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