Filme do Dia: Sem Destino (1969), Dennis Hopper

 


Sem Destino (Easy Rider, 1969). Direção: Dennis Hopper. Rot. Original: Dennis Hopper, Peter Fonda & Terry Southern. Fotografia: Lázló Kovács. Montagem: Donn Cambern. Dir. de arte: Jeremy Kay. Com: Peter Fonda, Dennis Hopper, Jack Nicholson, Karen Black, Phil Spector, Tony Basil, Antonio Mendoza, Luke Askew, Luana Anders, Sabrina Scharf.

Os traficantes de cocaína e aventureiros alcunhados Wyatt Earp ou Capitão América (Fonda) e Billy (Hopper) realizam uma longa viagem da Califórnia até o Mardi Gras, tradicional carnaval de New Orleans. No caminho dão carona a um viajante solitário (Askew) até uma comunidade hippie. De lá oferecem carona a duas garotas da comunidade, Lisa (Anders) e Sarah (Scharf) e se divertem com elas. Apenas os dois, no entanto, chegam até Lousiana, onde são  presos na pequena cidade de Lafayette e conhecem o advogado arruaceiro George Hanson (Nicholson), filho de boa família. Hanson os liberta da cadeia e parte com eles para New Orleans, onde ele afirma que existe o melhor prostíbulo do país. No meio do caminho experimenta maconha pela primeira vez e é morto por um grupo de moradores locais conservadores. Após sua morte, Wyatt e Billy decidem prestar um tributo ao amigo morto, indo até o prostíbulo. Acabam por levar as garotas, Mary (Basil) e Karen (Black), a um cemitério, onde realizam uma orgia-catarse, embalados por LSD. Pouco tempo depois, são mortos por dois caminhoneiros locais.

Esse, que é um dos filmes seminais da cinematografia americana, talvez seja o que melhor expresse, pelo menos em ficção, os valores e a cultura do final da década de 1960. Introduzindo elementos das vanguardas americana e francesa na narrativa clássica hollywoodiana, consegue burlar muitas das convenções de gênero, seja na forma que agrega seqüências (com brevíssimos insights de planos em flashforward, que já antecipam o que acontecerá posteriormente) ou próximo ao final, na seqüência do cemitério. E, talvez ainda mais na própria forma que se delineia a narrativa, evitando as facilidades tradicionais do cinema clássico americano. Muito de sua força advém da vigorosa seleção musical (que inclui algumas perólas de Steppenwolfe, The Byrds, Hendrix, The Band e Dylan) aliada a algumas das mais belas paisagens do meio-oeste americano e um arguto comentário sobre a violência no país em meio ao propalado pacifismo da época. Curiosamente, embora muito dos emblemas da cultura hippie sejam uma reciclagem dos valores tradicionais americanos (a própria alcunha dos protagonistas, a forma como Billy e os membros da comunidade hippie vestem-se), são as raízes desses mesmos valores que acabarão por trucidá-los. Hanson, a certo momento adverte sobre as diferenças radicais entre as liberdades formais pregadas pelo Sonho Americano, que provocam uma cultura da apatia e mesmerização e a vivenciada pelos seus companheiros de estrada, de contornos tão trágicos e épicos quanto as origens do próprio país, através dos pioneiros da conquista do Oeste (não é a toa que uma das locações do filme seja justamente o célebre Monument Valley, símbolo dessa conquista e de sua celebração em película nas mãos de John Ford). Produzido com recursos modestos para o padrão americano, tornou-se um estrondoso sucesso de público e crítica e gerou diversas imitações de pior qualidade. Sua influência pode ser percebida em obras tão distintas como No Decorrer do Tempo (1976) e Paris, Texas (1985) de Wim Wenders, ou Thelma & Louisie (1990), de Ridley Scott, todos marcados pela estrutura road movie do filme. National Film Registry em 1998. BBS/Columbia Pictures/Pando/Raybert Productions. 94 minutos.

 

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