Filme do Dia: La Donna della Montagna (1944), Renato Castellani
La
Donna della Montagna (Itália, 1944). Direção: Renato Castellani. Rot. Adaptado:
Renato Castellani, baseado no romance I
Giganti Innamorati, de Salvatore Gotta. Fotografia: Massimo Terzano.
Música: Nino Rota. Montagem: Mario Serandrei. Dir. de arte: Gastone Medin.
Cenografia: Gino Brosio. Figurinos: Maria De Matteis. Com: Marina Berti, Amedeo
Nazzari, Maurizio D’Ancora, Corrado Racca, Fanny Marchiò, Maria Jacobini, Carlo
Mengoli, Pietro Meynet.
Rodolfo Morigi (Nazzari) é um bem sucedido empresário que
perde a amada e jovem esposa numa temporada numa estância de inverno. Desde os
funerais até o momento de sua recuperação, Zosi (Berti), a filha de um homem de
posses, tornou-se uma presença permanente em sua vida, prestando-lhe auxílios,
ainda contra sua vontade. Mesmo um pouco à contragosto, Rodolfo se casa com
Zosi, mas ela é tratada como empregada doméstica e não divide o quarto com ele.
A situação só muda de figura quando Luca (D’Ancora), um amigo de longa data de
Zosi e de sua família, fica chocado com o modo como encontra casualmente uma
Zosi descuidada, longe de beleza e elegância de outros tempos. Luca compra-lhe
presentes e é convidado a casa. Rodolfo disfarça seu ciúme. Zosi, no entanto,
pede que ele parta. Após muitas humilhações sofridas, Zosi corre em meio ao
frio atrás de Rodolfo. Inicialmente rechaçada, sente-se recompensada, após
tê-lo chorando em seus braços, pedindo desculpas por todas as aflições que lhe
infligiu.
Como boa parte dos melodramas em que a heroína sofre um
processo de vitimização diante do seu amado, e aqui tal situação ocorre de modo
muitas vezes patético de tão enfático, que a leva a um sacrifício que redime a figura que é objeto de seu amor, tal filme, como os outros semelhantes,
tanto se entranha nas raízes mais profundas do cinema clássico quanto acena
involuntariamente para as posteriores revisões de situações semelhantes por
realizadores autorais moderno como Fassbinder (Martha) ou Von Trier (Ondas do Destino). Sem muito esforço se pode perceber igualmente ecos de um
diálogo mais próximo com o cinema norte-americano do que propriamente com o
cinema italiano contemporâneo, sendo a opção pela adaptação do romance de
Gotta, uma versão menos barroca e suntuosa que o Rebecca (1940), de Hitchcock, onde o cerne do conflito amoroso
reside na sombra da figura da esposa falecida – evocada aqui, como lá,
praticamente ao longo de todo o filme, seja pelas soturnas cenas iniciais, que
acompanham o caixão sendo levado até as cruzes que permanecem expostas na sala.
Nenhuma cena é mais patética do que a do gozo final de Zosi por ter finalmente
Rodolfo em seus braços. Porém, nem antes nem tampouco ao final, se aponta para
uma relação equilibrada e efetivamente sexuada entre o casal; se inicialmente o personagem apresenta
características reativas de um homem mimado e auto-centrado em demasia, capaz
de impor sofrimento a mulher que o ama enquanto gozo vingativo de seu próprio
sofrimento, ao final ele se debulha em lágrimas como uma criança em seu colo. A
seqüência inicial do funeral parece antecipar um filme que não ocorre, com sua
despojada e moderna, além de relativamente elíptica, apresentação in media res do acidente e posterior
sepultamento da esposa de Rodolfo. Quando Castellani foi se aconselhar com a
amiga, a célebre roteirista Suso Cecchi D’Amico sobre o filme, ela o achou tão
ruim que sugeriu a ele que não o lançasse, o que não está tão longe assim da
verdade. Das várias adaptações de Gotta empreendidas pelo cinema italiano nos
anos 30 e 40, a mais famosa, e provavelmente melhor, foi La Signora di Tutti (1934), de Max Ophüls. Lux Film. 93 minutos.
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