Filme do Dia: Um Amor de Vizinho (1964), David Swift
Um Amor de Vizinho (Good Neighbour Sam, EUA, 1964). Direção: David Swift. Rot.
Adaptado: James Fritzell, Everett Greenbaum & David Swift, a partir do
romance de Jack Finney. Fotografia: Burnett Guffrey. Música: Frank De Vol.
Montagem: Charles Nelson. Dir. de arte: Dale Hennesy. Cenografia: Ray Moyer. Figurinos: Micheline & Jacqueline Moreau. Com:
Jack Lemmon, Romy Schneider, Dorothy Provine, Michael Connors, Edward G.
Robinson, Edward Andrews, Louis Nye, Robert Q. Lewis, Joyce James.
Sam Bissel (Lemmon)
leva uma vida tranquila com a esposa Minerva (Provine) e suas duas filhas
pequenas até a chegada de uma amiga francesa de Dorothy, Janet Lagerlof
(Schneider), que se torna vizinha do casal e logo recebe a notícia de que
herdará 15 milhões de dólares de um tio falecido, caso comprove que se encontre
casada. O casal Bissel pretende ajuda-la, fazendo Sam se passar por seu marido,
mas tudo se torna ainda mais complicado com a chegada do ex-marido de Janet,
Howard (Connors), e com a decisão da agência de publicidade no qual Sam
trabalha de divulgar uma campanha publicitária em outdoors, que pretende
capitalizar em cima de um casal comum, no caso Sam e Janet. Os dois casais
ainda tentam driblar os espiões plantados próximos de suas residências, por uns
primos distantes do falecido, que pretendem se apoderar da fortuna dele.
Aproveitando-se de
uma relativa distensão do Código de Produção que havia norteado a moral a ser
apresentada pela produção hollywoodiana, gerando um ciclo de comédias
sofisticadas de apelo erótico mais (caso de Médica, Bonita e Solteira) ou menos saliente (como é o caso desse),
o filme se aproveita igualmente da persona já demarcada de Lemmon como o americano médio e
sua possibilidade de transgressão dessa rotina família-trabalho. Lemmon encarna
uma certa criatividade sufocada que se dirige para a elaboração de engenhocas
sem o menor senso de praticidade, modo pelo qual consegue criar um escape para
o modorrento universo do trabalho; evocado, a determinado momento, de forma
explícita, como um bando de cordeiros dentro de um carro. Schneider, por sua
vez, encarna uma versão mais sutil e menos debochada da mulher que exala sex appeal e ameaça ruir também com o
universo doméstico do herói, que havia sido encarnada a perfeição por Marilyn
Monroe na década anterior. A narrativa se assegura de deixar o campo livre para
que a evocação da possibilidade de um swing (tampouco consumada no posterior Bob&Carol&Ted&Alice) se
delineie, após a avó ter se encarregado de levar as filhas para um providencial
passeio, que dura exatamente o tempo necessário para o desdobramento, algo atravancado e pouco
conciso, da trama venha a ocorrer – boa parte do tempo excessivamente dedicado
aos mecanismos de se fazer burlar a vigilância, numa metáfora que bem poderia
caber ao próprio filme, sendo que em ambos os casos o resultado é fracassado,
nem os verdadeiros casais conseguindo permanecer juntos a noite nem tampouco o filme conseguido ir
além da fantasia da traição. Como tal fantasia é indolor e inodora, pode-se
vivencia-la sem comprometer em nenhum segundo a chave da comédia leve, já que
domesticada a “ameaça externa”, representada pela mulher sensual e estrangeira,
pode-se voltar sem sobressaltos à situação anterior de harmonia conjugal e
familiar. Columbia Pictures.
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