Filme do Dia: Cinema de Lágrimas (1995), Nelson Pereira dos Santos
Cinema de
Lágrimas (Brasil, 1995). Direção: Nélson Pereira dos Santos. Rot. Adaptado:
Silvia Oroz & Nélson Pereira dos Santos, baseado no livro Melodrama: O
Cinema de Lágrimas da América Latina, de Oroz. Fotografia: Walter Carvalho.
Música: Paulo Jobim. Montagem: Luelane Corrêa. Cenografia e Figurinos: Silvana
Gontijo. Com: Raul Cortez, André Barros, Christiane Torloni, Patrick Tannus,
Cosme Alves Neto, Silvia Oroz.
A morte misteriosa da mãe (Torloni),
quando tinha quatro anos, faz com que o hoje famoso diretor de teatro Rodrigo
Ferreira (Cortez), contrate o jovem estudante Yves (Barros), para acompanha-lo
em suas pesquisas na cinemateca mexicana. Sempre esquivo, o jovem revela os
trágicos motivos que o afastaram de Rodrigo (envolvimento com drogas, AIDS) e,
após seu retorno ao Brasil, manda-lhe uma carta, onde afirma que encontrara o
filme que Rodrigo há tanto buscava. Esse o assiste e se emociona, achando ter
encontrado Yves num festival que homenageia o Cinema Novo.
Embora a proposta de investigar, bem ou
mal, o hoje pouco conhecido melodrama latino-americano tenha ganhado uma
roupagem até mais criativa que a maioria das outras co-produções que o British
Film Institute realizou para celebrar o centenário do cinema, ao escolher
trabalhar com uma ficção que procura efetivar um triângulo entre o passado do
protagonista, sua situação de envolvimento atual e o que transcorre nas telas,
o resultado final é grandemente indigente. Para tanto colaboram a inverossímil
situação e o péssimo desenvolvimento dramático da situação, contrapondo o
emocionalismo de Rodrigo com as explicações pedantes e acadêmicas de Yves que,
ao mesmo tempo que irritam Rodrigo, provocam semelhante efeito na platéia
(sofisticado exercício metanarrativo?). Tendo desperdiçado a chance de
aproveitar melhor a engenhosa idéia de interação entre o filme e aqueles que o
assistem, resta, digno de nota, pouco mais que os breves planos que apresentam
uma dança folclórica em uma praça mexicana, repleta de uma energia e vitalidade
ausentes no filme (outra metáfora: o que importa é a vida, dane-se o cinema?).
Apresenta cenas de, entre outras produções argentinas e mexicanas, produzidas entre as décadas de 1930 e 1950, Distinto
Amanhecer, Lupe, La Mujer Del Porto, Historia de un Grand
Amor, Camelia, La Diosa Arrodillada, Doña Diabla, Armiño
Negro, Vítimas do Pecado e Abismos de Pasión. Esse último
pertencendo, curiosamente, a fase melodramática de Buñuel, diferenciando-se do
restante pela utilização, no mínimo estranha, de Wagner na trilha sonora (a
mesma Liebstod já utilizada em Um Cão Andaluz) e pela aproximação
subliminar com a necrofilia (que seria mais explicitamente abordada em uma
seqüência hilariante de O Fantasma da Liberdade). Também aparece, na
seqüência final, uma homenagem ao Cinema Novo, representado por seu mais famoso
filme, Deus e o Diabo na Terra do Sol e na composição de Caetano Veloso
que presta um tributo ao movimento e acompanha os créditos finais. O filme é
dedicado a Fabiano Canosa, grande entusiasta do cinema nacional.British Film
Institute/Meta Video Produções. 95 minutos.
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