Filme do Dia: Beijos Roubados (1968), François Truffaut
Beijos Roubados ( Baisers Volés, França, 1968).
Direção: François Truffaut. Rot.
Original: François Truffaut, Claude de Givray & Bernard Revon. Fotografia: Denys Clerval.
Música: Antoine Duhamel. Montagem: Agnès Guillemot. Dir. de arte: Claude
Pignot. Com: Jean-Pierre Léaud, Claude
Jade, Daniel Ceccaldi, Claire Duhamel,
Delphine Seyrig, Michel Lonsdale, Serge Rousseau, Harry-Max,
André Falcon, Catherine
Lutz, Jacques Rispal, Martine Brochard.
Dispensado do serviço do Exército, por
instabilidade emocional, Antoine Doinel (Léaud) vai diretamente a um
prostíbulo. Depois vai procurar a
família protetora, os Darbon. Enquanto a mãe lhe conta que Christine (Jade),
sua filha e objeto do amor de Doinel se encontra viajando com amigos, Lucien
Darbon (Ceccaldi), liga para um amigo afim de que encontrem uma vaga como
porteiro para o jovem. Doinel, acaba não se mantendo durante muito tempo no
hotel, já que permite que a Sra. Colin (Brochard) seja pega em adultério por um
detetive e marido traído. Convidado por Henri (Harry-Max), o detetive, passa
então a trabalhar na mesma agência que fizera a investigação. Sua primeira
missão é a de seguir um mágico que é objeto de paixão do misterioso sr. Albani
que encomendara a investigação. Porém fracassa nessa investigação e na próxima.
No ínterim visita Christine, lhe conta sobre o novo emprego, e a agarra na
adega, quando vão pegar um vinho. É chamado para acompanhar o estranho pedido
de outro cliente, Tabard (Londsale), que quer descobrir porque é desconsiderado
por todos, da mulher às suas empregadas que trabalham na loja de sapatos do
qual é proprietário. Após um falso teste de seleção, Doinel é aprovado como
novo empregado da loja. Logo sente-se imensamente atraído pela mulher de Tabard, Fabienne (Seyrig). Quando
esta sabe, chama-o para tomar café com ele em seu apartamento. Doinel, consciente
das implicações que pode causar na investigação e dividido entre Christine
Darbon e a Sra. Tabard, foge desesperado da casa e pede demissão da
firma. O sr. Albani tem um ataque histérico quando percebe que o ex-companheiro
lhe trai e ainda por cima é casado. Na manhã seguinte, ela o surpreende na cama
e faz o trato de fazerem amor e de depois ele nunca mais vê-la. Conta tudo
para o chefe, quando uma outra detetive percebe que Fabienne Tabard incomumente
se dirige cedo da manhã para o apartamento onde mora Doinel. É duramente
criticado pelo dono da agência, o sr. Blady (Falcon) que só para de brigar com
ele, quando Henri morre num ataque fulminante quando fala no telefone com um
cliente. Passa a trabalhar como eletricista à domicílio. Christine Darbon o
chama em sua casa, após avariar a televisão propositalmente, e ambos fazem as
pazes. Quando se encontram sentados em um parque, um homem (Rousseau), que
segue Christine a vários dias, se
aproxima e consegue declarar seu amor por ela.
Terceiro filme do
ciclo Antoine Doinel, após Os
Incompreendidos (1959) e Antoine e
Colette (1962). Apesar de trabalhar com muitas características presentes em
Domicílio Conjugal, realizado com
praticamente a mesma equipe dois anos após, como a presença enfática do
plano/contraplano nos diálogos, de ambos trabalharem detalhes e pequenos
ridículos do cotidiano como a mão enluvada e nervosa do cliente homossexual da
agência de detetives, o resultado aqui soa mais vivo e espontâneo. Como se um
certo caráter improvisado acabasse dando mais brilho as interpretações, com
acuidado destaque para todos os coadjuvantes, que não soam como meros tipos,
como no filme posterior. Truffaut consegue explorar com mais
felicidade a graça desajeitada de seus personagens, principalmente uma certa
ingenuidade quixotesca, para não dizer imatura, do personagem vivido por Léaud,
que com seu passo miúdo, ao atravessar a praça e retornar ao seu apartamento
após o encarceramento militar imediatamente nos faz relembrar o garoto de dez
anos antes, em Os Incompreendidos.
Mesclando aspectos autobiográficos com pura farsa, o filme não deixa de ser
autocomplacente como todos os outros longa-metragens do ciclo Doinel que
seguiram o primeiro, buscando em alguns momentos um efeito de nonsense
que evoca o Buñuel auto-paródico de O
Discreto Charme da Burguesia (1972) e O Fantasma da Liberdade (1974), como na seqüência final do
parque. Mais uma alusão ao cinema de
Jean Vigo, cineasta que como Truffaut procurava trabalhar com a graça
desastrada dos movimentos humanos em L’Atalante
(1934), com o casal Tabard, nome do personagem de Zéro em Conduta (1932). Lês Films du Carrosse/Les Productions
Artistes Associes. 90 minutos.
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